Os dados sobre o mercado de trabalho divulgados nesta semana foram devastadores. Ao mesmo tempo em que o desemprego saltou de 5,3% para 5,9%, entre janeiro e fevereiro, a renda do trabalhador registrou a primeira queda desde 2011. O epicentro desse crise é a construção, onde nada menos que 250 mil pessoas foram demitidas nos últimos meses. Sem crédito, as empreiteiras já paralisaram pelo menos trinta grandes obras de infraestrutura no País. E a recuperação judicial parece ser o caminho inevitável de empresas que, até ontem, exibiam solidez financeira e reconhecimento nacional e internacional. As primeiras a pedir proteção contra credores foram a Alumini e a Galvão Engenharia. Ao que tudo indica, a próxima será a OAS.

A causa principal desse colapso é uma só: a Operação Lava Jato. E não apenas porque seis empresas, entre um universo de mais de vinte que também fazem parte do mesmo suposto cartel, tiveram suas lideranças encarceradas e, assim, perderam crédito e condições de competitividade. O pano de fundo da crise é também a guerra política, verbalizada com clareza pelo ex-governador paulista Alberto Goldman. Segundo ele, uma das condições para um eventual impedimento de Dilma Rousseff é a deterioração econômica. Portanto, quanto pior, melhor.

No MP, o primeiro a falar sobre o impacto econômico da Lava Jato foi o procurador Deltan Dallagnol, em entrevista à jornalista Miriam Leitão. Disse ele, com razão, que países com maiores índices de corrupção crescem menos. Disse ainda, ao falar das demissões, que talvez seja o momento de dar “um passo atrás, para depois dar cinco passos à frente”. O problema é que ninguém é capaz de medir qual é a dimensão do “passo atrás”. Até agora, o cenário que se desenha para o pós-Lava Jato poderá ser até pior do que o atual. Como apenas seis entre mais de vinte empresas foram punidas e só as que não se submeteram a delações estão sendo empurradas para o precipício, o resultado final poderá ser um país com um setor de construção ainda mais cartelizado.

Em outro setor, o impacto mais agudo é sentido na indústria naval.
O governo japonês reclamou sobre três estaleiros que se implantaram no País, subcontratados pela empresa Sete Brasil. Eles têm R$ 1,3 bilhão a receber, mas que não foram pagos em razão da Lava Jato – como o lendário Pedro Barusco atuou na empresa, a Sete se tornou radioativa.

Se houvesse visão de futuro no Brasil de hoje, as lideranças estariam buscando o diálogo, e não o confronto. Chega a ser chocante o silêncio de lideranças empresariais, em especial da CNI, que assistem impassíveis ao desmoronamento da indústria naval.