Depois da febre em torno da mulher brasileira, o mundo finalmente atenta para a competência dos nossos criadores. Às vésperas de apresentarem suas coleções primavera-verão 2002 nas semanas de moda de Nova York (7 a 14 de setembro), Londres (17 a 22) e Paris (4 a 13 de outubro), os cinco maiores estilistas brasileiros do momento – Fause Haten, Carlos Miele, Amir Slama, Alexandre Herchcovitch e Icarius de Menezes – falam de suas expectativas em relação à moda nacional e do que os levou a participar dos desfiles internacionais. Haten, Slama, Miele e Herchcovitch mostrarão as mesmas peças que desfilaram no último São Paulo Fashion Week. Para Haten, o verão será alegre e cheio de estampas. Slama aposta na moda praia das lolitas, com bordados delicados. Miele privilegia o uso da laicra e de tecidos que imitam penas e plumas. Herchcovitch abusa do crepe Georgette. Já Icarius apresentará, pela primeira vez, moda praia.

Fause Haten

Em fevereiro do ano passado, o paulistano de origem libanesa Fause Haten estreava na semana de moda de Nova York. No próximo dia 10, ele apresenta sua quarta coleção nas passarelas americanas, jornada que começou a partir de um trabalho para a grife Giorgio Beverly Hills. “Em 1999, eles procuravam um estilista diferente, de um país diferente e com um trabalho diferente”, recorda. Na opinião de Fause, é importante também a presença dos jornalistas e compradores internacionais durante os desfiles nacionais. “Eles divulgam e exportam nosso trabalho para o mundo todo”, diz. A editora de moda da Vogue inglesa, Isabela Blow, é um exemplo. Assistiu pela primeira vez ao desfile da grife Fause Haten, no último Morumbi Fashion, em 2000, e levou nada menos do que dez roupas e quatro bolsas do estilista. A partir daí, os artigos internacionais sobre Fause cresceram em progressão geométrica. “Desfilar em Nova York continua sendo melhor para divulgar o meu trabalho do que para vendê-lo”, assume. “Com mais dois anos de New York Fashion Week, acho que começaremos a contabilizar os lucros.”

Amir Slama

Além da competência na arte de fazer biquínis, a humildade é a característica mais surpreendente do estilista Amir Slama, dono da grife Rosa Chá, de São Paulo. Ele é capaz de manter a calma e o bom humor mesmo horas antes de pegar o avião para Nova York, onde mostra sua criação pela segunda vez, no próximo dia 12. Formado em história, entrou para o mundo da moda porque estava cansado de dar aulas e por causa do apoio da esposa, Riva Slama. “Já faz 12 anos que ela desistiu de ser bancária e eu de ser professor. Arrumos um espaço no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, e passamos a desenhar, cortar e costurar biquínis. Quando me pego indo para Nova York, fico emocionado”, diz Slama. Com a mesma naturalidade de quem não esconde o que sente, o estilista é o único a assumir o quanto suas vendas no Exterior representam. “No ano passado, exportamos 9% de tudo o que produzimos, o dobro em relação a 1999. Este ano, devido ao sucesso dos desfiles, acho que cresceremos ainda mais”, vislumbra.

Carlos Miele

Aos 36 anos, o dono da grife M.Officer, Carlos Miele, de São Paulo, é o estilista brasileiro mais polêmico. Ousado, gosta de surpreender. Em seus desfiles no Brasil, chegou a apresentar um modelo que não tinha uma perna e a colocar uma índia de 96 anos na passarela. Foi criticado, mas, às vésperas de se apresentar pela primeira vez na semana de moda de Londres, no dia 18, o estilista rebate. “Somos provincianos. As jornalistas Lilian Pacce e Érica Palomino, por exemplo, só elogiam os desfiles de seus amigos. E o Paulo Borges (criador do SP Fashion) dá espaço apenas para sua panela de estilistas”, critica. “Se entrei para o calendário londrino não é porque tive apoio dessas pessoas e, sim, porque optei por vender minhas roupas antes de desfilá-las”, completa. O reconhecimento de Miele em Londres, sem dúvida, além de seu talento, se deve ao fato de o estilista passar quase tanto tempo lá quanto aqui. “São seis meses em cada lugar”, diz. Desta vez, Miele embarca com uma companhia, no mínimo, especial: sua namorada, a modelo Suyane.

Alexandre Herchcovitch

Apesar da cara de menino, o estilista Alexandre Herchcovitch, de São Paulo, acaba de completar 30 anos e, no dia 6 de outubro, em Paris, apresenta seu sexto desfile internacional. “Se consegui desfilar três coleções em Londres e já vou para a terceira em Paris é porque sou, acima de tudo, muito realista. Não me deslumbro com o sucesso, só trabalho mais”, diz. Segundo Herchcovitch, cada desfile internacional custa em média US$ 100 mil, o que dificulta, e muito, os lucros. “Qualquer brasileiro que disser que ganha rios de dinheiro com as vendas no Exterior ou está mentido ou nunca desfilou fora do Brasil”, afirma. A grande vantagem é o reconhecimento. E quanto a isso Herchcovitch não tem do que reclamar. “Acabo de ser avisado que a procura pelo meu desfile desta temporada está tão grande que vou ter de ser transferido para uma sala com o dobro do espaço. Maravilha”, comemora o estilista brasileiro mais elogiado em artigos de moda internacionais. Algumas das peças que mais prometem fazer sucesso são os vestidos de crepe Georgette, incrementados com pesos para dar melhor caimento ao tecido. “Aqui quase ninguém entendeu. Lá, vão adorar”, aposta.

Icarius de Menezes

Por ter se tornado mais conhecido na Europa do que no Brasil, o estilista Icarius de Menezes, 26 anos, é motivo de inveja entre os colegas. Foi convidado a integrar o calendário oficial dos desfiles de Paris menos de dois anos depois de se formar em moda pela Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, mas não se gaba. “Ainda sou um iniciante e me assusto com a velocidade das coisas”, comenta. Sua coleção verão 2002, a terceira fora do Brasil, será apresentada no dia 12 de outubro, em Paris, e promete arrancar suspiros da platéia. Além das peças de alta-costura e prêt-à-porter, Icarius mostrará, pela primeira vez, sua moda praia. “Dizem que eu não estou nem aí para o Brasil. Isso é mentira, 40% dos tecidos que usei são brasileiros”, defende-se. Outra prova da ligação de Icarius com o País é a sua preocupação em vender por aqui. “Moro na Bélgica e quase não lucro com as vendas no Brasil. Mas estarei ampliando meus pontos-de-venda para as principais capitais brasileiras”. Por enquanto, só a Daslu, em São Paulo, vende as roupas do estilista.