Depois de lavar e secar, é preciso guardar. Parece que agora é esta a preocupação de Paulo Maluf e seus familiares com os cerca de US$ 200 milhões depositados em Jersey, paraíso fiscal no Canal da Mancha, numa conta da qual ele é beneficiário. Os fundos foram bloqueados em 2000, com o início das investigações pelo Ministério Público Estadual (MPE), mas ISTOÉ apurou que após a publicação da notícia, em junho deste ano, Flávio Maluf, filho do pepebista, ligou três vezes num único dia para o escritório Schellenberg Wittmer, especializado em transações financeiras internacionais. Na semana passada, ISTOÉ divulgou que a linha telefônica em nome da filha Lígia Maluf também registra diversas chamadas para o Citibank da Suíça, desde 1994. De tão preocupado em lavar mais branco, Maluf esteve em Genebra no último mês de julho, durante uma viagem à Europa.

Mas a munição do pepebista está acabando. O desespero do ex-prefeito é tamanho que agora ele anda apresentando argumentos nada plausíveis para explicar a conta. Em seu delírio, disparou: “Não tenho conta, só pode ser obra de um petista suíço.” A reação mostra que a quantidade de CPIs, processos e inquéritos em que está envolvido já anda embaralhando suas idéias. Isolado, Maluf comemorou seus 70 anos, na segunda-feira 3, em São Paulo. Na festa, nem sombra das lideranças do PPB. Só alguns ex-atletas que sonham com a vida pública: Maguila, do boxe, Pampa, do vôlei, e Karina, do basquete. De qualquer forma, o ex-prefeito tinha motivos para se alegrar.

Aos 70 anos, o prazo de prescrição nos inquéritos criminais cai pela metade e a pena é reduzida. Além disso, os juízes costumam ser condescendentes com criminosos da terceira idade e a prisão domiciliar é um expediente comum. A briga entre promotores estaduais e procuradores federais pela competência do caso Jersey também pode ajudar Maluf. Segundo ISTOÉ apurou, se o inquérito criminal ficar nas mãos do MPF – o que deve acontecer –, provavelmente o ex-prefeito será julgado por evasão de divisas, e não por lavagem de dinheiro. Um crime exclui o outro. No caso de evasão, parte-se do princípio de que a quantia depositada na ilha é limpa. Nesse caso, tudo poderá acabar em pizza porque as autoridades internacionais não serão obrigadas a repassar informações ao Brasil, já que as leis na Suíça e em Jersey não punem a evasão. Tanto que o procurador suíço Jean-Louis Crochet só abrirá um processo para investigar as transações de Maluf por lá se a Justiça brasileira provar que o dinheiro tem origem ilegal.

Peru de Natal – Enquanto o resultado da briga pela competência do caso não sai, procuradores federais e promotores estaduais decidiram que as informações suíças serão repassadas ao MPF. Mas as ações e inquéritos cíveis que apuram se o ex-prefeito cometeu improbidade administrativa continuam com os promotores da Justiça e Cidadania do Estado. As possíveis condenações de ressarcimento dos prejuízos aos cofres públicos e perda dos direitos políticos não serão amenizadas por conta da idade do ex-prefeito. O promotor Sílvio Antônio Marques está animado. “Acho que não vai acabar em pizza, mas, sim, em peru de Natal”, ironiza. O prazo para que Marques entre com a ação é 28 de dezembro. Não é porque Maluf completou 70 anos que promotores, procuradores e vereadores vão parar de investigar sua obra. Na última quarta-feira 5, ele depôs na CPI da Educação, da Câmara paulistana. Os vereadores querem saber por que ele não investiu o que deveria na Educação durante sua gestão (1992-1996). O relatório pedirá a cassação dos direitos políticos de Maluf por oito anos. Ele ainda voltará a depor na próxima segunda-feira 10, na CPI da Dívida Pública. A presidente da Comissão, Ana Martins, já recebeu as listas com o sigilo telefônico de Maluf, da BCP e da Telesp.

Mesmo com as brechas legais que podem ajudar o pepebista a escapar da prisão, seu isolamento político e a repercussão internacional do caso já são suficientes para nocauteá-lo publicamente. Em Jersey e na Suíça, a má fama de Maluf já foi parar nos jornais. No Jersey Evening Post ele é tratado como um “dos políticos mais carismáticos e desacreditados do Brasil”. Na Suíça, o Tribune de Gèneve, um dos jornais de maior circulação no país, conta a história de Paulo Salim Maluf: até os europeus já sabem que “malufar virou sinônimo de roubar”.