Assim como milhares de jovens brasileiros, a paulistana Isabel Monteiro também partiu para Londres, nos anos 80, na esperança de ver o mundo longe do prisma dos coqueiros ou do caos urbano de São Paulo. Entrou na saga dos subempregos e foi balbuciando seu inglês até ter a obrigação de aperfeiçoá-lo cada vez mais devido a um presente que o destino lhe concedeu. Em vez de ficar eternamente limpando hotéis ou lavando pratos, ela pôde colocar sua voz delicada à frente do grupo Drugstore – que está lançando seu terceiro álbum, Songs from the jet set –, cuja formação permanente inclui até um violoncelo. A banda inglesa conquista pela estrutura melodiosa das canções, que muitas vezes remetem à suavidade do canadense Cowboy Junkies. Basta ouvir The party is over, em que guitarras harmoniosas constroem a canção até arrematá-la e lapidá-la com ferramentas nada familiares ao mundo do rock.

É um disco que também surpreende pela total ausência de barulho. Isabel não fez concessões às origens. Não quis transformar seu projeto de vida numa extensão sonora de sua terra natal. Nada de batuques, berimbaus ou qualquer som alienígena aos ouvidos estrangeiros que transformassem o CD num produto de criatividade exótica. Todas as letras e músicas são de autoria da vocalista e baixista, e quase não há referências ao Brasil. Exceto em uma ou outra cadência musical ou nas letras de Navegando, na qual ela mescla em português os versos “navegando sem parar/navegando contra o mar”, entoados ao fundo, e Flying down to Rio, “onde o sol surge e brilha”, verso absolutamente compreensível para quem vive o banzo da luz numa cidade linda, limpa e civilizada como Londres, mas sem o calor constante do astro-rei.

Allegro ma non troppo é outra elegia à suavidade. É quase uma canção de ninar, de tão delicada. Tem até chocalho e som de caixinha de música pontuando versos únicos à procura da felicidade. O nome da banda foi inspirado no título do filme Drugstore cowboy, uma bobagem junkie assinada por Gus Van Sant, fita de acabamento propositadamente feio que nada tem a ver com o refinamento adquirido pelo conjunto liderado por Isabel, dona da idéia de que, no universo roqueiro, é perfeitamente possível liberar a delicadeza e casar com ela. Sem estardalhaço.