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A presidente Dilma Rousseff e o PT ganharam as eleições em 2014, mas perderam as ruas em 2015. A incontestável superioridade numérica dos protestos de ontem, domingo (15), sobre as manifestações favoráveis de sexta-feira (13) expõe a dura realidade para o Palácio do Planalto. Diante da conjuntura desfavorável, resta ao governo acertar onde comete sucessivos erros: na política.

Para corrigir o rumo, recomenda-se – antes de mais nada – fazer uma avaliação correta do momento vivido pelo país. A estratégia de confrontar “nós” contra “eles”, eficiente para a vitória nas urnas, mostra-se equivocada para o segundo mandato de Dilma. Desde que o PT chegou ao poder, até o início do primeiro mandato, o governo desfrutava de popularidade e, em caso de dificuldades, podia recorrer às ruas para se fortalecer. Esse jogo mudou.

O “nós” contra “eles” ainda funciona para forçar a unidade dos militantes governistas, mas pode-se dizer que tem nenhuma eficácia na condução do país. Chegou a hora de formar maiorias em torno de propostas que atenuem a insatisfação de uma significativa parcela dos brasileiros. O cenário atual exige maturidade e, pelo menos, um pouco de humildade por parte de quem está no poder.

Enxergar apenas eleitores da oposição e “golpismo” nas praças e avenidas parece uma visão limitada do atual cenário nacional. Prova disso foi o fato de que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), um dos poucos a defender a deposição de Dilma, foi vaiado quando tentou fazer um discurso no Rio. A volta dos militares ao poder, defendida por uma ínfima minoria, não tem respaldo da população nem dos quartéis.

Superdimensionar a possibilidade de impeachment da presidente também não ajuda a entender o ronco das ruas. Apesar de todas as denúncias de corrupção, não existe no horizonte jurídico qualquer chance de se afastar Dilma do Palácio do Planalto dentro dos limites da democracia. As instituições brasileiras são fortes, como lembrou o ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, em conversa com ISTOÉ há três semanas. Aqui, vale ressaltar que na entrevista de ontem à noite, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo enfatizou a confiança no Supremo Tribunal Federal (STF) no encaminhamento da Operação Lava Jato.

Como fato positivo, deve-se reconhecer que, na entrevista de ontem à noite Cardozo falou em diálogo. Depois de reconhecer a legitimidade das manifestações ele, meio timidamente, admitiu conversar até com a oposição. O ministro da Justiça também enfatizou que Dilma governa para 200 milhões de brasileiros e não, apenas, para seus eleitores. No caminho do diálogo, os projetos de reforma política parecem um bom começo para se tentar romper a polarização. Isso, no entanto, só vai acontecer se o PT for mais flexível em pontos que não são aceitos pelos outros partidos, como o financiamento público das campanhas.

Na semana passada, Dilma deu um sinal de que pretende sair do gueto da política ao anunciar, de improviso, que a articulação terá o reforço dos ministros Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Gilberto Kassab (Cidades). Experientes e bons de diálogo, os três entendem bem do assunto. Falta saber, no entanto, o que poderão fazer para ajudar na organização da base aliada.

Até agora, formalmente, a tarefa de cuidar da política coube ao titular das Relações Institucionais, Pepe Vargas. Na prática, a costura com os partidos e a área econômica do governo por Mercadante. As sucessivas derrotas do governo nas votações na Câmara, conduzidas pelos “aliados” Renan Calheiros, presidente do Senado, e Eduardo Cunha, presidente da Câmara, demonstram que o modelo não funcionou.

Os erros na política do governo se acumulam, com maior evidência, desde a campanha do ano passado. O marketing eleitoral apresentou um Brasil fantasiado de paraíso nos programas de TV, mas logo depois de abertas as urnas a prática do governo contrariou muito do que foi dito na corrida presidencial. Medidas como aumento dos juros, aumento de tarifas e ajustes na legislação trabalhista minaram a credibilidade do segundo mandato de Dilma.

A montagem do ministério também se mostrou um desastre. Com nomes de pouca expressão na maioria das pastas, Dilma imaginava que contemplaria os partidos da base aliada e garantiria maiorias no Congresso. As derrotas sofridas no Parlamento neste início de ano revelaram que o objetivo não foi alcançado.

As próximas semanas serão decisivas para que se tenha uma ideia da capacidade do Palácio em superar o momento de adversidade. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso primeiro que se tenha a dimensão correta do que aconteceu no fim de semana. Caso contrário, teremos de nos acostumar com o povo na rua.

(Por Eumano Silva)