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 O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo

A presidente Dilma Rousseff, seis ministros e suas equipes passaram a tarde de plantão no Palácio da Alvorada monitorando as manifestações que levaram 1,5 milhão de pessoas às ruas neste domingo (15). O número de insatisfeitos com o governo e a capilaridade dos protestos, registrado em todas as capitais e grandes cidades, surpreenderam o governo. Até a tarde de sábado, informes de inteligência do Ministério da Justiça apontavam para manifestações pontuais e ameaças de depredação de prédios de diretórios do PT em São Paulo. Preparados para atos de violência, governo deixou a equipe do Ministério da Justiça de prontidão. O discurso estava pronto para desqualificar as manifestações.

O resultado das mobilizações, no entanto, fez o Planalto convocar uma reunião de emergência  e mudar o discurso do tom policial para o político. Aloizio Mercadante (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Justiça), Pepe Vargas (Relações Institucionais), Miguel Rosseto (Secretaria-Geral da Presidência) e Thomas Traumann (Comunicação) elaboraram com a presidente um plano de rápida resposta. O anúncio de um pacote de medidas de combate à corrupção foi a fórmula encontrada. Desde as eleições, Dilma promete enviar as propostas ao Congresso. Cardozo explicou que o pacote de mudanças legais depende de análise técnica, colaboração entre os Três Poderes, mas o governo vai se apressar e enviar as proposições nas próximas semanas. A ideia era fazer isto apenas no segundo semestre. A presidente vai fazer novo pronunciamento para anunciar detalhadamente o pacote anti-corrupção.

Entre as medidas que devem ser defendidas pelo governo está a apropriação pela União de bens obtidos com a prática de ilícitos, regras de responsabilização de servidores de altos cargos e ampliação dos mecanismos de monitoramento de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. Em vez de atribuir a insatisfação popular a uma mobilização feita pelos adversário, Rosseto e Cardozo, os dois ministros escalados para falar em nome da presidente na coletiva que começou pouco antes das 19h, admitiram a legitimidade das manifestações e defenderam a união do país. “Temos que ser maiores do que nossas divergências, nosso compromisso é governar para 200 milhões de pessoas, para aqueles que nos aplaudem e para os que nos criticam”, afirmou Cardozo.

Durante a coletiva, Rosseto afirmou que o governo está “renovando o ambiente de diálogo”. A fala do ministro refere-se a um conturbado bastidor político entre a equipe de comunicação do governo e o PT, na tarde de hoje. Alguns dirigentes petistas defendiam o enfrentamento, com a estratégia de desqualificação dos protestos, atribuindo as manifestações a um “3º turno” convocado pela oposição. Essa tese caiu por terra e os aliados de Dilma decidiram mudar o tom do discurso a partir de agora. Até sábado, os petistas haviam organizado uma contra-ofensiva para enquadrar os protestos como “ódio”. A metodologia usada pelo Planalto, a partir de hoje, é chamar as manifestações de “inquietude”.

Discordância, também, no partido, atingiu o debate dos projetos de ajuste fiscal e corte de benefícios trabalhistas e previdenciários. Dirigentes do PT defenderam a suspensão temporária da tramitação de medidas impopulares no Congresso, até os ânimos das ruas esfriarem. Na reunião de hoje no Alvorada, porém, Dilma e seus ministros decidiram melhorar a comunicação, para explicar melhor as medias, em vez de recuar.

Por Josie Jeronimo