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Além dos já amplamente conhecidos novos conglomerados de tecnologia, provavelmente quem mais está ganhando com o terremoto que há alguns anos chacoalha os setores tradicionais de mídia e de comunicação são palestrantes, escritores, organizadores de simpósios e donos de cursos que especulam em torno de fórmulas mágicas para se lidar com uma das mais profundas e radicais transformações de que já se teve notícia. Ficou famoso algum tempo atrás, um documento interno do New York Times que tratava justamente de arriscar um diagnóstico sobre os erros e descaminhos de uma das mais firmes estacas do velho mundo da informação mundial diante das “ameaças” da nova ordem planetária da comunicação. Em resumo, o que se lê nas dezenas de páginas do material que vazou e ganhou as redes, é que a instituição mais respeitada do jornalismo mundial está mais perdida do que consoante em letra de axé music.

Enquanto empresas de todos os tamanhos gastam o carpete das salas de reunião tentando descobrir como lidar com a velocidade das mudanças que só não é maior do que a do tráfego da informação, uma das mais tradicionais emissoras de televisão aberta do país parece ter encontrado há alguns anos a “receita secreta” para produzir um telejornalismo relevante e diferenciado em meio a concorrentes com “turbinas” infinitamente maiores e mais potentes, seja no line up das televisões abertas, seja nas fechadas.

O Jornal da Cultura , levado ao ar todas as noites, de segunda a sábado, pela emissora de mesmo nome, percorreu uma linha de raciocínio relativamente simples e profundamente eficaz. Se a notícia chega hoje de forma instantânea, direta e implacável ao cérebro das pessoas mesmo que elas não queiram receber, só resta oferecer à audiência a interpretação inteligente e multicolorida do que acontece no planeta.

Assim, entendendo que, ao fim e ao cabo, a única coisa que realmente faz diferença em meio a tantos veículos, suportes, plataformas e aplicativos é de fato o que se tem a dizer, resolveu reunir duplas de comentaristas preparados e capazes de empreender algo que anda escasseando em tempos de cyber haters e de intolerância digital: debater de forma madura e democrática.

Junte-se a esses ingredientes um âncora competente, capaz de pontuar e conduzir o tal debate mediando e enriquecendo sem atrapalhar e resistindo à tentação de querer brilhar mais que os convidados e o resultado é um produto altamente demandado e valorizado, hoje mais do que nunca: reflexão.

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Nomes como Eduardo Muylaert, advogado; Paulo Saldiva, médico; Arlene Clemesha, professora de História Árabe; Luis Felipe Pondé, filósofo; Leandro Karnal, historiador; Mario Sérgio Cortella, filósofo; Christian Lohbauer, cientista politico e Roberto Troster, economista, revezam-se em duplas bem escaladas para pensar com propriedade e comentar as notícias. O elegante âncora Willian Corrêa, cumpre bem e com personalidade a difícil tarefa de substituir a Maria Cristina Polli, que com seu jeito espontâneo e simpático, durante anos foi a cara da atração.

O resultado não só já alcançou incríveis picosde 2,5 pontos de audiência, mas, bem além disso, tem conseguido fazer até os mais incrédulos na hipótese de encontrar algum conteúdo relevante nas emissoras de tv aberta, reverem suas posições.

E só  reforçou a tese de que a melhor e talvez a única opção para os veículos tradicionais percorrerem com saúde e segurança a estreita e longa ponte de transição entre o mundo antigo e o novo, está mais perto do que imagina o mais criativo dos teóricos e palestrantes sobre o assunto: investir na qualidade e na relevância do conteúdo.

Para quem ainda não viu e se interessou, recomendo assistir ao jornal às segundas-feiras.

É nelas que se encontram o historiador Marco Antonio Villa e o advogado e ex-parlamentar Airton Soares. Os encontros (e desencontros) entre os dois provocam um confronto de ideias e de visões de mundo que aquece a fé na dialética como a única saída razoável para se lidar com os absurdos e o drama da existência humana. Com coragem e conhecimento de causa, ambos se entregam ao bom combate sem medo e, sem julgar o mérito das questões tratadas ou das posições defendidas, prestam excelente serviço à população que dá a devida importância ao conhecimento como arma para que uma sociedade consiga deixar para trás os estágios mais precários e sombrios e possa um dia evoluir na direção de horizontes mais amplos e ensolarados.

A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente 


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