Uma pesquisa em fase experimental indica que o transplante de células da retina – tecido da estrutura ocular onde se forma a imagem – pode ser a resposta para alguns casos de cegueira. A técnica está sendo conduzida com sucesso pelo Instituto Oftalmológico de Wilmer, em Baltimore, nos Estados Unidos. No futuro, ela deve chegar ao Brasil pelas mãos do médico brasileiro Maurício Maia, que faz parte da equipe que desenvolve o método. “Depois de concluirmos o estudo, penso em aplicar a experiência em pacientes daqui”, garante.

O estudo, recente, é coordenado pelo médico Mark Humayun, diretor do instituto americano. Em abril, ele e Maia apresentaram os resultados no VII Congresso da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, realizado em Vitória, no Espírito Santo. Um dos métodos da pesquisa é retirar a retina de fetos que foram abortados com cerca de quatro meses de gestação. Depois, células do tecido são transferidas para os pacientes com cegueira. “A nova retina recebida pelos voluntários vai amadurecendo e com o tempo substitui a função antiga”, explica Humayun.

Esse método é uma esperança para cerca de 20% das vítimas da degeneração macular senil, doença provocada pelo desgaste das células oculares. Em geral, o problema afeta pessoas a partir dos 60 anos. Os pacientes perdem a visão central, responsável pela leitura. É raro, mas o mal também pode surgir aos 50 anos, devido a fatores genéticos ou exposição excessiva à ação dos raios ultravioleta.

Até agora, o transplantante foi aplicado a nove americanos. Por enquanto, ainda não houve rejeição do organismo, o que costuma ser um dos principais entraves do transplante. A explicação para tal fenômeno é que a retina possui menos vasos sanguíneos do que, por exemplo, o pâncreas. São os vasos que transmitem os sinais da rejeição. A retina, portanto, apresenta menos probabilidades de não ser reconhecida pelo organismo. “Mas ainda é preciso tempo para comemorar”, afirma Maia. Os voluntários da pesquisa já estão conseguindo enxergar vultos, o que é considerado um avanço.