Um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado pelas agências internacionais na quarta-feira 29, colocou sem rodeios a ameaça de recessão que assombra o mundo. A instituição reduziu a previsão para o crescimento da economia mundial este ano – de 3,2% para 2,8%. De acordo com a Reuters, a projeção de 2,5% para os Estados Unidos caiu para 1,1%. O Japão deve crescer apenas 0,2% este ano e 0,5% no ano que vem. Segundo o FMI, a zona do euro deve crescer 2% neste ano e 2,4% no próximo, expectativa rebaixada em 0,4 ponto percentual para cada ano.

Em sua publicação interna, a IMF Survey aponta a desvalorização das ações e a crise dos países emergentes – na qual se inclui o Brasil – como algumas das causas que levam à previsão de que a taxa do crescimento mundial em 2001 ficar em 2,8%, uma baixa razoável em relação aos 5% de 2000.

Há indícios de recessão para todos os lados: o PIB americano no segundo trimestre deste ano avançou apenas 0,2%, no seu menor ritmo desde o primeiro trimestre de 1993. A taxa de desemprego subiu 0,6% desde outubro do ano passado e não inclui a avalanche de demissões anunciadas recentemente. O que para o presidente George W. Bush sugere o surgimento muito lento de uma recuperação econômica bateu no mercado financeiro como uma péssima notícia. Os mercados recuaram logo após a abertura do pregão quando, na quarta-feira 29, foram divulgados os dados do índice que mede a atividade econômica total do país. Ao mesmo tempo, dados apurados pela Conference Board, empresa de pesquisas de negócios, indicavam que a confiança dos consumidores americanos atingiu em agosto seu pior nível nos últimos quatro meses, uma queda motivada pela visão mais pessimista dos americanos em relação à situação econômica.

No outro lado do mundo, os japoneses enfrentam índices recordes de desemprego. A taxa de julho chegou a 5% e foi a mais elevada desde a Segunda Guerra Mundial. São mais de três milhões os trabalhadores desempregados. Na quinta-feira 30, o índice Nikkei da Bolsa de Tóquio caiu para o menor nível em 17 anos, assim como fechou em queda a maioria das Bolsas de Valores asiáticas.

O PIB da Alemanha estagnou no segundo trimestre. O da Itália caiu. E a Europa se salva momentaneamente do risco de recessão graças ao desempenho da França e da Espanha. “O mais grave é que, quando as economias do G-7 (o grupo dos países ricos) espirram, as emergentes pegam pneumonia”, escreveu o economista Paul Singer, professor da FEA-USP, na edição de agosto da revista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Segundo ele, o mundo só não se encontra em recessão severa e crise financeira generalizada porque o Federal Reserve Board (Fed), tão logo a queda nas Bolsas passou a estrangular o crescimento real dos EUA, reverteu sua política, reduzindo a taxa de juros do país no mesmo ritmo com a que tinha elevado um ano antes.

Pé no brejo – Uma manobra salvadora, mas não suficiente, ao menos na avaliação do economista José Carlos Braga, diretor do Centro de Estudos de Relações Econômicas Internacionais (Ceri), da Unicamp. “Os governos precisam atuar no sentido de compensar a desaceleração do investimento e do consumo privado. Além de baixar os juros, é preciso que parem de se preocupar com o déficit zero e aumentem seus gastos produtivos”, avalia. Para minimizar os efeitos da crise mundial, os principais bancos centrais do mundo deveriam unir esforços e atuar juntos, socorrendo países e instituições financeiras à beira da falência. “O mundo está com uma capacidade de produzir maior que a demanda e esse movimento é acompanhado por uma brutal desvalorização dos ativos, o que pode agravar o quadro recessivo”, analiza.

Os PIBs de Cingapura e Taiwan acumularam no primeiro semestre queda anual de 11% e 6%, respectivamente. Na América Latina, diz a revista The Economist, México e Argentina já estão em recessão e o Brasil segue no mesmo caminho”. O que não surpreende: o crescimento anual da produção industrial caiu de 7,1% no primeiro trimestre para 2,9% no segundo.

Essa numeralha toda tem uma tradução bem popular: os emergentes estão com os pés enfiados no brejo. A globalização, que permitiu ao capital financeiro circular com liberdade pelo mundo, levou as economias emergentes à ilusão de que poderiam ser players no jogo. Ao primeiro tropeço dos Estados Unidos, descobriram-se sparrings.

Clinton defende calote dos países pobres

Kátia Mello

O ex-presidente Bill Clinton defendeu com veemência o não-pagamento da dívida externa dos países pobres como uma maneira de impulsionar o desenvolvimento econômico do Terceiro Mundo. Em palestra para 400 alunos da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, na terça-feira 28, Clinton disse que o dinheiro da dívida deveria ser aplicado em soluções que resolvessem as demandas sociais nesses países. O ex-presidente citou Honduras como uma das nações que adotaram essa medida, investindo em educação e saúde. Clinton chegou a São Paulo trazendo do Rio um leve bronzeado e o humor em alta. Ao ser sabatinado pelos alunos sobre a restrição da legislação americana que impede a um presidente de se candidatar ao terceiro mandato, o ex-presidente afirmou que gostaria de ser presidente para sempre. “Adoro esse trabalho.”