O ex-gerente-geral do Banco do Estado do Pará Marcílio Guerreiro Figueiredo irá à sede da Polícia Federal em Belém, na segunda-feira 3. Levará uma maleta com documentos explosivos que pretende entregar à comissão de investigação do Conselho de Ética do Senado. São relatórios diários de movimentações bancárias feitas a pedido do ex-diretor do Banpará Hamilton Guedes, que favoreceram o presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), entre outros. Os documentos mostram os dias, os valores e o destino do dinheiro desviado para alimentar contas em outros Estados – incluindo o já famoso fundo de investimentos de Jader na agência Itaú do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. A papelada do ex-gerente é o elo que a comissão espera para ligar definitivamente Jader aos desfalques no Banpará e colocar em xeque o depoimento do senador à comissão de investigação, no qual ele repetiu, por três vezes, que não recebeu sequer um tostão do dinheiro surrupiado do Banco do Estado do Pará. Os depoimentos de Figueiredo e Guedes e o parecer de peritos do Banco Central sobre a defesa apresentada por Jader serão as peças finais do relatório da comissão de investigação que será entregue ao Conselho de Ética na quinta-feira 6, com a proposta de abertura de processo contra o senador por quebra do decoro parlamentar.

Para contar tudo o que sabe sobre as operações envolvendo Jader, Marcílio Figueiredo fez três pedidos, todos aceitos pelos senadores. O primeiro é sua inclusão no programa de proteção à testemunha. O outro é que o depoimento fosse em Belém, e não em Brasília. O terceiro é que seja ouvido também o testemunho de Hamilton Guedes, homem de confiança de Jader, que foi diretor do Banpará e hoje é advogado do PMDB no Pará. Antes mesmo de ouvir Figueiredo, o coordenador da comissão de investigação, senador Romeu Tuma (PFL-SP), estava convencido de que Jader tem mesmo culpa no cartório. Na manhã da quinta-feira 30, Tuma fez um relato das apurações na reunião da Executiva do PFL e assegurou que Jader quebrou o decoro. O presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), aproveitou a exposição de Tuma para responder a uma ameaça do senador paraense: “Não tenho nada na minha vida pública que possa me tornar refém do Jader.” Depois de espalhar que tinha munição suficiente para detonar outros cinco ou seis senadores, em seu depoimento na última quarta-feira Jader repetiu a chantagem. Explicitou três alvos: Bornhausen, Tuma e José Sarney (PMDB-AP). “Se a intenção dele era me intimidar, não deu certo”, reagiu Tuma.

As ameaças de Jader de colocar outros senadores na fogueira – inclusive a reabertura das investigações do caso do painel eletrônico para deixar o líder petista José Eduardo Dutra (SE) na defensiva – são uma tentativa desesperada de evitar a cassação de seu mandato. Ao mesmo tempo que faz terrorismo contra colegas, Jader e sua pequena tropa de choque acenam com uma proposta de paz que prevê sua renúncia à presidência do Senado em troca de o Conselho de Ética remeter as investigações à Justiça. A barganha não colou. Os representantes no Conselho de Ética das oposições, do PFL, do PSDB e até alguns dissidentes do PMDB, já selaram o destino de Jader: vão aprovar a cassação do seu mandato, a não ser que – a exemplo de Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda – ele se antecipe à punição e renuncie ao mandato. Na quarta-feira 29, em quase três horas de depoimento, Jader tentou desqualificar o relatório do auditor do BC, Abrahão Patruni Júnior, pinçando trechos de outros documentos do banco, mas não convenceu os senadores. “Não tenho dúvida alguma de que Jader se beneficiou da operação fraudulenta de desvio de recursos do Banpará”, sentenciou a senadora Heloísa Helena (PT-AL). “O relatório do Patruni tem o inconfundível cheiro da verdade”, endossou o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), outro integrante do Conselho de Ética.

Tomada a decisão política de punir Jader, o Senado tem pressa em executar a sentença. Não vai sequer esperar as conclusões das investigações dos escândalos que envolvem Jader com a emissão fraudulenta de Títulos da Dívida Agrária (TDAs) e com o desvio de financiamentos feitos pela Sudam. Integrante da comissão de investigação, o senador Jéferson Peres (PDT-AM) aposta até num atalho para enquadrar Jader. Como presidente do Senado, ele engavetou por mais de três meses o requerimento dos relatórios do BC sobre o Banpará. “Isso é quebra de decoro. Ele obstruiu a investigação em causa própria”, afirma Peres.