O PFL não dá ponto sem nó, principalmente quando o que está em jogo é o poder. Depois de ficarem desnorteados com a morte do deputado Luís Eduardo Magalhães, em 1998, o partido puxou outra carta da manga para se impor na eleição de 2002. No início do ano passado, surgiu, no fim do túnel, uma luz vinda do Maranhão. Roseana Sarney despontava como a governadora mais popular do País. Jovem, bonita e simpática, Roseana tem ainda em comum com Luís Eduardo, filho do ex-senador Antônio Carlos Magalhães, o fato de ser herdeira de uma raposa da política: o ex-presidente José Sarney, senador pelo PMDB. Há um ano, o nome de Roseana foi lembrado para disputar o Planalto, junto com o do ministro da Saúde, José Serra. Mas, na época, ACM bombardeou o plano, defendendo o nome do governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB). Diplomática, Roseana retirou o time de campo, avisando que queria eleger-se senadora. Ao cair em desgraça, com sua renúncia por conta da violação do painel do Senado, ACM perdeu o cacife e Roseana – com 88% de aprovação da população maranhense – passou a brilhar. A cúpula do PFL não poupou esforços para mostrar ao público sua nova estrela.

Pesquisa – Primeira e única mulher a governar um Estado no Brasil, Roseana, 47 anos, passou a ser preparada para ser a mais importante peça pefelista no tabuleiro da sucessão de FHC. É cedo para saber até onde vai o vôo da governadora, mas a possibilidade de ela vir a ser candidata passou a ser pleiteada com mais força pelos caciques pefelistas. O motivo foi a divulgação, na quarta-feira 29, do resultado de pesquisa de intenção de voto para a eleição presidencial, feita pela CNT/Sensus. Realizada em 24 Estados, entre os dias 17 e 23 de agosto, com duas mil pessoas, a pesquisa mostrou, em um dos cinco cenários apresentados, que Roseana, com 14,1%, não só passou à frente dos nomes governistas citados como conseguiu empatar tecnicamente com Ciro Gomes (PPS), este com 14,4%, atrás do petista Luiz Inácio Lula da Silva (30,1%). Em sua melhor performance na pesquisa para presidente, Serra surge com 10% das intenções de voto em uma lista estimulada na qual é o único governista presente. “Para uma eleição primária Roseana já é o nome do PFL”, avisou o presidente da legenda, o senador Jorge Bornhausen, defensor das eleições primárias para a escolha do candidato governista. A pesquisa mostra ainda a aprovação do desempenho das mulheres na gestão pública, tidas como honestas, responsáveis, confiáveis e competentes. Para completar a alegria dos pefelistas, o instituto de pesquisa Vox Populi também vai mostrar o bom desempenho de Roseana na sua próxima pesquisa. Isso é fruto de um trabalho obstinado. O partido vem expondo sua imagem desde a campanha de 2000, quando ela participou de mais de 100 programas de candidatos a prefeito em várias cidades. No mês passado, a governadora foi protagonista dos programas de tevê do PFL. Mas a exposição sempre tem seu lado negativo. Um importante assessor de Lula sinaliza o que poderá vir pela frente. Lembrando que o Maranhão amarga um dos piores índices de pobreza do País e Roseana domina os meios de comunicação locais, daí a inexistência de notícias ruins sobre o Estado, ele avisa: “Daqui a pouco o País vai começar a conhecer a realidade do Maranhão.”

Emoção – Agora, os pefelistas desdenham da idéia de serem coadjuvantes na eleição. “Roseana tem potencial eleitoral. Sou contra nós continuarmos sendo um vice-partido”, afirmou o deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE). A própria Roseana deu seu recado durante reunião da Executiva Nacional do PFL em 17 de julho: “Ninguém pense que poderá alijar o PFL das decisões nacionais.” Um dos mais próximos consultores de Roseana ressalta que ela transmite uma emoção genuína. “A emoção não é mais privilégio do Lula”, afirmou. Especialistas em marketing político são unânimes em afirmar que Roseana tem um atributo precioso: carisma. Dados de pesquisas qualitativas do PFL atestam isso. De acordo com o diretor-executivo da legenda, o ex-deputado Saulo Queiroz, Roseana conquista o coração dos mais pobres. “As classes A e B operam com preconceito em relação a Roseana. A linguagem emocional é o forte dela. Por isso, sua imagem é forte da classe C para baixo. Ela atingiu o povão de uma forma contundente”, constatou. A imagem de mulher lutadora, que conseguiu sobreviver a dezenas de cirurgias, também contribuiu para fortalecer seu carisma. “Seu nível de conhecimento nacional é impressionante, mais de 80%. Além disso, ela é tida como boa administradora e uma política que defende o social”, analisou o presidente do Vox Populi, João Francisco Meira. A questão que se coloca agora, segundo ele, é se Roseana tem viabilidade eleitoral para carregar uma candidatura presidencial nas costas. “Acho que essa viabilidade começou a ser prenunciada nas pesquisas feitas em janeiro do ano passado”, opinou.

Bombardeio – O cientista político Rubens Figueiredo, do Centro de Pesquisa de Comunicação (Cepac), acredita que o verdadeiro blitzkrieg televisivo do PFL, que bombardeou o telespectador com a imagem da governadora, foi decisivo. “Seria interessante ver se um outro candidato governista, exposto desta maneira, teria um crescimento semelhante. De qualquer forma, Roseana tem um nome conhecido e é a mulher mais importante hoje na política. Ela é competente na tevê e tem uma boa estampa”, observou Figueiredo. Apesar de todos os índices positivos, para ser candidata Roseana tem uma batalha: evitar que o PFL caia no canto dos tucanos, aceitando, mais uma vez, ser vice. 


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