Nos anos 70, o grupo punk-rock The Sex Pistols ensinou ao mundo o que é ter atitude de verdade. Com um estilo agressivo, confrontou a tradicional sociedade inglesa, minando suas instituições mais sagradas. A banda surgiu num momento em que a classe operária na Inglaterra estava totalmente soterrada pela falta de trabalho, vivendo apenas do seguro-desemprego. Era um cenário ideal para que aqueles malucos antitudo informalmente organizassem o movimento punk que abalou estruturas sólidas. Os Pistols duraram pouco mais de dois anos, do verão europeu de 1975 ao início de 1978, período suficiente para perpetuar o culto ao seu redor. É sobre esta trajetória conturbada que o cineasta inglês Julien Temple se debruça outra vez, depois de ter lançado The great rock‘n’roll swindle, em 1980, também sobre a banda. Seu novo documentário, O lixo e a fúria (The filth and the fury, Inglaterra, 1999), que estréia em São Paulo na sexta-feira 7, é menos mitificador e bem mais revelador que o anterior.

De posse de cenas de shows, filmes domésticos pessoais e entrevistas, Temple determina com clareza o que foi o vendaval Sex Pistols. Dá voz aos sobreviventes, principalmente ao vocalista John Lydon ou Johnny Rotten – como ficou conhecido – e mostra o maior ícone da banda, o baixista Sid Vicious, balbuciante numa conversa de 1978, pouco antes da sua morte por overdose de heroína. O diretor não escamoteia a degradação do músico, afundado nas drogas e no relacionamento destrutivo com Nancy Spugen, a quem os companheiros atribuem uma péssima reputação. Ao longo da sua curta existência, os Sex Pistols cunharam a frase No future (sem futuro). Seguindo à risca o lema punk, a banda experimentou o próprio fel desintegrando-se em meio à vaidade e à loucura sem limites.