Às vésperas da Segunda Grande Guerra, dois romanos donos de lojas geminadas levam a vidinha de sempre. Agem como patriarcas absolutos diante de suas respectivas famílias, disputam a freguesia e procuram oferecer o melhor atendimento ao público. Enquanto o católico Umberto Melchiorri (Diego Abatantuono) se orgulha da qualidade artesanal de suas roupas, o judeu Leone Simeoni (Sergio Castellitto) inventa liquidações e novidades como as roupas prontas. Mas quando o fascismo de Mussolini alia-se de vez ao nazismo de Hitler e as perseguições contra os judeus tornam-se incessantes, a antiga disputa comercial dá lugar a uma grande solidariedade entre os dois vizinhos. Contado sob a ótica do garoto Pietruccio (Walter Dragonetti), filho de Umberto, Concorrência desleal (Concorrenza sleale, França/Itália, 2001) – em cartaz em São Paulo, Brasília e Porto Alegre a partir da sexta-feira 7 – é uma ode à vida em família, à simplicidade das relações.

Com estes elementos, o diretor Ettore Scola, em seu 27º trabalho, realizou um filme já considerado uma de suas obras-primas. Não é só pela história, contudo, que Concorrência desleal cativa. A Roma dos anos 30 pode ser vista à perfeição na recriação do cenógrafo Luciano Ricceri da hipotética Via Settimiano – que para muitos italianos lembra a Via Ottaviano –, local onde situam-se as lojas dos amigos e os personagens se encontram. Scola também escalou um bom elenco, incluindo os franceses Gérard Depardieu como o irmão de Umberto – um professor antifascista, porém omisso – e o veterano galã da nouvelle-vague Jean-Claude Brialy no papel do avô da família Simeoni. Assim, Ettore Scola fez um filme terno na forma e contemporâneo no tema, nestes dias em que a Europa voltou a ser rondada pelo fantasma da intolerância racial.