Figura carimbada do trip hop – corrente da música eletrônica mais sombria e de batida lenta –, o músico inglês Tricky cultivou por muito tempo a fama de excêntrico. Fotos de divulgação de seus cinco álbuns o mostram invariavelmente vestido com saias de corte malfeito e chifres de demônio, sem falar na expressão de quem parece ter passado por várias sessões de eletrochoque. Quanto à música, Tricky vinha afundando cada vez mais em experiências sonoras depressivas. Com o recém-lançado Blowback, no entanto, ele deu uma guinada surpreendente e, sem dúvida, assinou o melhor disco da sua carreira desde o fabuloso Maxinquaye, de 1995, trabalho que marcou sua estréia solo depois de participar como rapper do cultuado grupo Massive Attack. Adrian Thaws, seu nome de nascença, continua fiel ao trip hop, criando atmosferas estranhas, misturadas a ruídos, sussurros e elementos de trilha de filme de suspense. Mas abriu o leque. Incorporou toques do reggae e se mostrou bem roqueiro em algumas faixas como Girls, parceria com Anthony Kiedis, do Red Hot Chili Peppers, e # 1 da woman, uma brincadeira com o tema do seriado Mulher Maravilha, parceria com o também chili pepper, o guitarrista John Frusciante.