Facilidade de crédito, desvalorização do dólar, aumento da qualidade dos produtos nacionais e a procura por novas opções de lazer longe dos grandes centros urbanos. A junção desses fatores tem beneficiado a indústria náutica brasileira, que cresce a um ritmo constante de 10% ao ano, impulsionada tanto pelas exportações quanto pelas vendas no mercado interno. Se entre os compradores internacionais a demanda é por embarcações cada vez maiores (na última edição do Monaco Yacht Show, único salão náutico dedicado exclusivamente a barcos de recreio de grande luxo, 60% dos iates tinham mais do que 40 metros), no Brasil o interesse da classe média em barcos de até 30 pés dita o ritmo da expansão.

O reconhecimento da qualidade das embarcações produzidas no Brasil fez com que o valor total das exportações do setor tenha ultrapassado os US$ 16 milhões em 2006, um aumento de 44% em relação ao ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos (Acobar). As vendas durante o verão no Hemisfério Norte, principalmente para a Europa, compensam a tradicional queda do mercado durante o inverno brasileiro.

Para os grandes fabricantes nacionais, o bom desempenho interno mostra que a indústria náutica começa a ser vista no Brasil sem o preconceito de que barco é coisa de rico. “Como no mercado automobilístico, há produtos para os mais abastados e outros para a classe média. Pelo mesmo preço de um carro simples pode-se também comprar um barco pequeno”, diz Lenílson Bezerra, diretor executivo da Acobar. Ele explica que como quase 50% das peças de um barco são importadas, o preço final do produto tem caído significativamente por conta da desvalorização do dólar.

Mas há outros motivos que aquecem o mercado. “A sensação de insegurança nas grandes cidades também leva o consumidor a olhar para as águas como fonte de lazer”, afirma Bezerra. Outro grande atrativo para a classe média é a possibilidade de financiamento. “De três anos para cá, a Aymoré passou a financiar barcos em até 60 vezes. Nesse tempo, é possível notar que até o público do São Paulo Boat Show ficou mais popular”, diz Ernani Paciornik, presidente do Grupo 1 Editora e um dos organizadores do maior salão náutico indoor da América Latina.

A décima edição do evento aconteceu durante a última semana no Transamerica Expo Center, na capital paulista. Entre as novidades, as lanchas Intermarine S, Spirit 460 Platinum e Phantom 500 HT. Todas essas embarcações são verdadeiros sonhos sobre as ondas. O Spirit 460, por exemplo, tem um sofá que gira 180 graus e plataforma de popa que desce até o mar. Para os amantes da velocidade, a grande atração é a F1 Duncan 40. Anunciada pelo seu fabricante como a “Ferrari dos Mares”, é a lancha mais veloz já produzida no Brasil – em testes, ela ultrapassou a velocidade de 100 mph (cerca de 160km/h). Custa cerca de R$ 1,3 milhão.