A semana começou com a Eletropaulo cortando a energia de 500 casas e duas mil pessoas, e terminou com a consagração de uma consumidora paulista, Silvia Dalto, moradora da zona leste de São Paulo. A doceira ultrapassou a meta por duas vezes consecutivas e acabou no escuro. Chiou porque ganha a vida fazendo doces em casa, e, depois de um dia e meio, teve a energia de volta, incorporando mais um ingrediente – a possibilidade de protestar – à ameaça que enfrenta resistência da população. "Logo no início do apagão, mandei uma carta à Eletropaulo pedindo revisão da meta, mas não obtive resposta", diz a consumidora. "Cansada de ligar para a empresa, desisti."

O que seria uma tragédia de uma microempresa, a Cia. dos Sabores, que tem seis funcionários e clientes em pizzarias e restaurantes, está quase mudando a vida de Silvia Dalto. Aos 35 anos, depois de ganhar os seus 15 minutos de fama com o apagão, ela acaba de receber propostas para posar nua e, como se fosse Carnaval, ganhou o título de "musa do apagão". O prejuízo foi de R$ 500, que ela está recuperando rapidamente porque, ao aparecer nos meios de comunicação, as vendas aumentaram.

Mas nem todas as vítimas do apagão são loiras, bem articuladas e cientes de seus direitos como consumidores. Em Osasco, onde o apagão chegou de surpresa, vigorando das 21h de terça-feira às 5 horas da manhã de quarta-feira, houve tumulto e muitas reclamações contra os maus modos dos profissionais responsáveis pelo desligamento. Eles entraram nas casas sem muita cerimônia e nenhuma educação e saíram sem lacrar a caixa do relógio. A resposta usual dos funcionários da empresa: "Vá reclamar com o presidente."

As próprias distribuidoras estão tropeçando no apagão e causando mais incerteza na população. Chovem solicitações de revisão em seus escritórios. Somente a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), que distribui energia para 234 municípios do interior de São Paulo, já recebeu 26.392 pedidos de revisão