A contenção forçada de energia elétrica tem, sem dúvida, íntima relação com o aumento da procura por velas. A diversidade cada vez maior de modelos e cores das antes singelas parafinas roliças, entretanto, transformou o apagão em mero pretexto para o consumo. Se há alguns anos as velas eram sinônimo de estruturas brancas com pavio ao centro, hoje elas se transformaram em obras de arte da decoração. Podem-se escolher as peças que mais se adequam à sala de estar, ao banheiro ou ao quarto da mesma forma que se escolhem tapetes, pisos ou cortinas para casas novas. Fábricas oferecem catálogos completos para o cliente escolher o tamanho e o tom da vela que deseja. O interesse pela novidade é tanto que a artesã Ariane Gil, dona da loja Velassemfim, em São Paulo, vende praticamente o dobro em relação ao ano passado. “A procura cresceu 90%”, contabiliza a proprietária. Para Ariane, o sucesso das vendas reflete uma mudança na mentalidade dos consumidores brasileiros. “Enquanto nos Estados Unidos abusava-se da parafina, no Brasil o uso das velas era muito restrito a ocasiões como enterros e cultos religiosos”, explica. Isso mudou.

Algumas velas podem até mesmo substituir o velho abajur, como pirâmides sobre tripés de ferro, cachepôs com 30 centímetros de altura e esferas coloridas. No ateliê Iluminarium, da artesã Kátia Vasconcelos, as velas podem ainda ser feitas sob medida. “Vasos e garrafas aposentados também podem se transformar em velas”, explica Kátia. “Basta preencher o espaço com parafina ou água. Nesse caso, velinhas flutuantes fazem a iluminação”, completa a artesã. O massagista Cláudio De Gennaro tem em seu consultório um exemplo dessa transformação. Levou a Kátia uma antiga garrafa d’água de 20 litros que virou um aquário estilizado. Há pedras brancas no fundo do frasco e flores de parafina que acendem sobre a água. “Todo mundo que entra aqui diz que quer uma igual”, diz De Gennaro.

Aromas – A maioria das peças da Iluminarium, entretanto, é exclusiva. As cores e os aromas aplicados à parafina devem ser escolhidos com cautela. Óleos essenciais, semelhantes àqueles usados na aromaterapia, dão personalidade à chama e emitem cheiros que vão da canela à erva cidreira. A primeira fragrância Kátia aconselha aos clientes que estão precisando de energia e vivacidade. Os mais ansiosos, no entanto, devem ficar com a erva-cidreira, que tem propriedades relaxantes. Na escolha das cores, vale lembrar que as velas vermelhas, laranja ou em outras cores fortes são mais excitantes. Para os quartos de dormir, aconselham-se peças claras, em branco ou gelo. As novas velas são resistentes, não derramam cera por todos os lados e podem, sim, ficar perto da cama.

A vela em forma de cubo, à venda na Terra Madre, em São Paulo, com seus 25 centímetros cúbicos de estampa de céu, nunca derreterá por completo. “Só é queimada uma área em torno do pavio. Se a chama ficar acesa ininterruptamente, a vela dura mais de 40 dias”, explica a dona da loja, Heloísa Galves. Apesar de ter montado a Madre Terra há dois anos, Heloísa vende velas e artigos místicos há pelo menos dez, quando abriu sua primeira Além da Lenda, loja famosa por seus gnomos de pano, hoje com 40 filiais. “No início, as velas eram os produtos que menos saíam das prateleiras. Atualmente, o consumo é quase tão alto quanto o de gnomos”, conta a empresária. Formada em comunicação visual, Heloísa fez da Madre Terra uma divertida loja de decoração. “Só vendo objetos alto-astral. Nada de castiçais sérios e parafinas brancas. As velas agora são originais, exclusivas e coloridas”, resume.

Onde encontrar: Madre Terra: (11) 3062-1614, Iluminarium (011) 3032-1129 e Velassemfim (011) 3819-6303

Pavio no escritório
Empresas, lojas e restaurantes também podem aderir às velas decorativas. A fábrica catarinense Hocus Pocus é especializada na venda em atacado dos produtos. São mais de 20 modelos, tamanhos e cores que podem ser escolhidos por meio de um catálogo. “Ajudamos o cliente a definir qual tipo de vela se insere melhor no espaço que ele quer decorar”, explica Élcio Alvin, um dos donos da fábrica. Formado em agronomia, Alvin virou um especialista em velas há dez anos e afirma que a Hocus Pocus cresceu expressivamente nos últimos três. “No início éramos eu e meu sócio. Agora mais 30 pessoas trabalham na fábrica”, conta. No varejo, as velas estão à venda nas lojas Tock & Stock. No atacado, pelo telefone: (48) 246-3285.
fotos: dárcio de jesus