Se sua filha adolescente aparece em casa de esmalte azul, o rosto coberto de glitter e um batom melado que teima em brilhar mais do que os lindos olhos, não se assuste. Provavelmente ela viu uma garota pintada da mesma maneira, num comercial da MTV, saindo de dentro de uma caixa onde estava escrito: “Contém 1g”. A marca nasceu há sete anos, em São João da Boa Vista, a 223 quilômetros de São Paulo, e tem um incrível poder de multiplicação. Por trás dela, o empresário Rogério Rubini, 41 anos. Ele começou copiando perfumes de grifes famosas e fez da Contém 1g, a nona maior empresa do setor brasileiro de cosméticos, com 100 pontos-de-venda e 50 mil vendedoras porta a porta.

No comando de um império de faturamento anual de R$ 52 milhões, Rubini é o que se pode chamar de self-made man. Descendente de uma família de italianos que fabricava aguardente, botões e tintas em Santa Catarina, ele criou o enigmático título Contém 1g ao deparar com um frasco de emulsão antiestrias no armário de seu banheiro, em 1987. “Queria um nome jovem para batizar minha confecção de malhas e tive essa inspiração”, conta. Em 1993, espelhado no sucesso de grifes como Forum e Giovanna Baby, que tinham perfumes com seus nomes, decidiu fazer o mesmo. Depois de seis meses, já estava trocando as máquinas de costura por tonéis com capacidade para 200 litros de álcool, para produzir 12 diferentes fragrâncias de aromas florais, cítricos e amadeirados. A grande sacada foi identificar cada uma apenas por números. As vendedoras, de no máximo 25 anos, se encarregavam de explicar que cada fragrância era “inspirada” em perfumes famosos, como Acqua di Gió, Chanel nº 5, Anais Anais e Lou Lou.

As adolescentes compraram a idéia. Até por uma questão de economia: enquanto um perfume da Contém 1g custa de R$ 14 a R$ 23, um importado varia de R$ 50 a R$ 500. Assumindo o rótulo teen, Rubini já vendeu mais de dez milhões de perfumes. Por não ter acesso à formulação original dos produtos nem reproduzir suas embalagens, Rubini rejeita o termo cópia. “Só fiz o que todo mundo faz: seguir as tendências olfativas que deram certo lá fora”, afirma ele. Com o tempo, alertado pela filha, passou a se inspirar também em cosméticos campeões de vendas para adolescentes, como Mac, Stylla, Bob Brown e Hard Candy. Hoje, ele fabrica 44 colônias e mais de 300 produtos, como sombras, batons e brilhos. Só no ano passado, viu suas vendas aumentarem 36% e recebeu até prêmio como empresa-revelação. Encarado como um Midas dos cosméticos, Rubini não pára de ser convidado para dar palestras de motivação para jovens e pensa em expandir os negócios para o Exterior. Entre os concorrentes do setor de cosméticos e higiene pessoal, que movimentou R$ 7,5 bilhões no Brasil, no ano passado, o clima não é dos mais amenos. A Avon, líder no setor de perfumarias no Brasil, desdenha a escalada da Contém 1g. “Ela prova da força do mercado de venda direta, e só. Mas o consumidor sabe julgar qual produto é melhor”, diz o vice-presidente de marketing da empresa, Saulo Nunes. Já entre distribuidoras de fragrâncias imitadas, o clima é de rivalidade. “Usar esse tipo de artifício para captar consumidores depõe contra a própria Contém 1g e é uma falta de criatividade”, alfineta Bárbara Kern, diretora de vendas da RR, representante de grifes como Hugo Boss e Gabriela Sabatini