O Brasil pode sofrer retaliações dos Estados Unidos caso o plenário da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara confirme a rejeição ao acordo de salvaguardas tecnológicas assinado com aquele país. O acordo, que prevê o aluguel para os americanos de parte da Base de Alcântara, no Maranhão, será votado em plenário ainda neste semestre. Especula-se que os EUA tenham interesse no local para reforçar o esquema do escudo antimíssel, que está causando polêmica internacional por ameaçar a vigência do Tratado Antimísseis Balísticos, firmado com a ex-URSS em 1972. O temor de retaliações americanas tem sido discutido por diplomatas, mas nem todos acham que o Brasil deva ceder. Para o embaixador Samuel Pinheiro, "o mais importante é preservar a soberania do País".

O relator da Comissão, deputado Waldir Pires (PT-BA), argumenta que seu veto ao acordo é baseado na preservação da soberania nacional. "Não podemos admitir que autoridades brasileiras precisem de crachás do governo americano para entrar no Centro de Lançamentos de Satélites. Não podemos tolerar que contêineres levados para Alcântara pelos americanos não sejam vistoriados pelos brasileiros", critica. Pires lembra que ao romper o acordo militar com os EUA, em 1977, o então presidente, Ernesto Geisel, desprezou as possíveis vantagens em jogo, inclusive a cessão, a preços baixos, de material militar para as Forças Armadas. "Ele fez isso em nome dos interesses nacionais", diz.

O brigadeiro Álvaro Dutra, que naquela ocasião trabalhou na assessoria da Presidência e participou dos estudos sobre a política de informática, é enfático: "Já sofremos retaliações quando adotamos a política da reserva de mercado para a indústria de informática, mas nem por isso deixamos de ter intercâmbio com os americanos em outros setores."