Um aflito senador Jader Barbalho (PMDB-PA) telefonou para o colega Renan Calheiros (PMDB-AL), no final da tarde da terça-feira 21, para pedir um favor. Com a ajuda de advogados e seguindo a estratégia de tentar mostrar que há contradições no Banco Central na apuração da fraude no Banpará, Jader preparou perguntas a serem feitas ao procurador-geral do BC, José Coelho Ferreira, durante depoimento à comissão do Conselho de Ética do Senado. Escalado para a tarefa, o senador João Alberto (PMDB-MA) não chegou a tempo a Brasília e Renan teve que desempenhar o papel. Nada deu certo. O procurador Coelho simplesmente endossou o trabalho do auditor do Banco Central Abrahão Patruni Júnior, que aponta Jader como principal beneficiário do desfalque. Um dia depois, o próprio Patruni convenceu de vez os senadores. “Não tem jeito, é indefensável”, admitiu João Alberto, até então aliado de Jader. O relatório da comissão proporá ao Conselho de Ética um processo contra o presidente licenciado do Senado, abrindo caminho para a sua renúncia.

Mesmo tendo manipulado documentos e distorcido fatos, Jader tomou cuidado em seus discursos de não mentir abertamente para não ser processado por quebra do decoro parlamentar. As oposições encontraram outro modo de enquadrá-lo. Por sugestão do senador José Eduardo Dutra (PT-SE), a comissão está estudando como processar Jader por obstrução das investigações: por mais de três meses, ele engavetou, na presidência do Senado, o requerimento dos relatórios do BC sobre o Banpará, que o incriminam. “Politicamente, Jader está liquidado, mas ainda falta uma solução técnica para o caso”, avalia um dirigente do PMDB muito ligado a Jader.

Medo da tevê – Em reunião fechada, Jader vai depor na comissão na quarta-feira 29. A apuração está sendo feita dessa forma a seu pedido para evitar que o interrogatório seja transmitido pela televisão. Apesar de todas as regalias, ele vem colecionando derrotas nas investigações, como a guinada de João Alberto, que aparentemente mudou de lado depois do depoimento de Patruni. O inspetor elaborou dois roteiros para os senadores. No primeiro, descreve o caminho do dinheiro desviado e sua associação com Jader. Patruni rastreou dez cheques administrativos, todos registrados como “despesa” na contabilidade do banco. O dinheiro jamais voltou. Todos os cheques viraram aplicações financeiras no fundo ao portador do Itaú, onde o senador tinha conta. Se faltava um caraminguá para chegar ao valor mínimo da aplicação exigida pelo Itaú, era Jader quem completava. Se sobrava, o resíduo ia para sua conta. Patruni também demonstrou que parte do dinheiro sacado do fundo do Itaú foi para a conta de parentes e empresas do senador ou de pessoas ligadas a ele.

“O depoimento de Patruni impressionou pela meticulosidade e riqueza de detalhes. Tudo o que ele fala tem como comprovar. Estou convencido que houve operações ilícitas envolvendo milhões de reais do Banpará, e o nome de Jader aparece em várias operações”, afirmou o senador Jefferson Peres (PDT-AM), um dos três integrantes da comissão. Patruni também descreveu os passos da investigação dentro do BC. Depois de duas inspeções, a fiscalização do BC concluiu que o material era suficiente para “confirmar os ilícitos e identificar as pessoas envolvidas”. Mas o departamento jurídico acabou engendrando um parecer, em maio de 1992, que livrava Jader. Para os senadores, ficou clara a omissão do BC no caso. Agora, o Conselho de Ética está disposto a esgotar as investigações. Na época em que Patruni fez seu trabalho, alguns rastreamentos ficaram pela metade. O Citibank, por exemplo, onde Jader também mantinha conta, negou-se a fornecer documentos. Com o sigilo bancário quebrado por decisão do STF, os senadores vão buscar o material que falta e interrogar os gerentes das agências em que o senador operava.

O cerco a Jader também está se fechando em outras frentes de apuração. É o caso das maracutaias com Títulos da Dívida Agrária. O delegado da PF Luís Fernando Ayres – responsável pelo inquérito que investiga a denúncia divulgada por ISTOÉ de que Jader teria embolsado o pagamento pelos títulos da fazenda fantasma Paraíso – vai passar um pente fino em todas as desapropriações amigáveis feitas durante a gestão do senador no Ministério da Reforma Agrária. Na terça-feira 21, o Conselho de Ética vai promover uma acareação entre Vera Arantes e o empresário Vicente Pedrosa da Silva, que continua a negar a venda dos TDAs ao banqueiro Serafim Moraes. “A Vera vai trazer provas de que ele está mentindo”, antecipa o senador Romeu Tuma (PFL-SP).