Noite de segunda-feira 20 de agosto. Depois de duas horas de reunião, Itamar Franco e Ciro Gomes entram numa sala do Othon Palace Hotel, em Copacabana, abarrotada de jornalistas ansiosos para saber se os dois vão disputar juntos a eleição presidencial. A cena é comandada por um terceiro personagem, que ninguém cogita incluir entre as opções para 2002. É Leonel Brizola quem escolhe as cadeiras onde Ciro e Itamar vão se sentar para a entrevista. É a ele, instalado à cabeceira da mesa, que se dirige a maioria das perguntas. Aos 79 anos, o ex-governador não parece nem um pouco disposto a se retirar de cena. Entra no xadrez da sucessão com a corda toda e já é, de novo, peça-chave no jogo da oposição.

As derrotas para presidente, vice-presidente e até prefeito não convenceram o velho trabalhista a vestir o pijama e cuidar da vida pessoal. “Quando tem algum problema na família eu ajudo, mas minha vida é 100% pública”, disse, atravessando a rua até o prédio onde ocupa um espaçoso mas austero apartamento com vista para o mar. Sorridente e com disposição de candidato, acariciou menores de rua e até jogou beijo para uma eleitora. “Vocês viram? Foi ela que jogou o beijo primeiro, e com o marido do lado!”, brincou. No apartamento onde passou grande parte da vida com a mulher, Neusa, morta em 1993, Brizola mora sozinho. Tem seis netos e três bisnetos. Dizem as más – ou boas – línguas que não foi por falta de pretendentes que não se casou de novo. “Ele tem várias namoradas”, propagandeia um amigo.

O PDT é o paradeiro mais provável de Itamar após a anunciada derrota na disputa pelo PMDB. Na condição de padrinho da dobradinha Itamar/Ciro, Brizola está com tudo para falar grosso com Lula, um dia considerado por ele herdeiro do nacionalismo de Getúlio Vargas. Como estrategista desse tabuleiro, Brizola descarta, pelo menos por enquanto, a hipótese de apoiar Lula. Cita sua própria trajetória para defender uma candidatura menos vermelha. “No início, eu defendia até enfrentamento armado, insurreição popular-militar. Chegamos a estar prontos, mas nos frustramos. Depois, tentei chegar lá sozinho, assim como o PT. Em seguida juntamos a esquerda, e batemos no nosso teto. Precisamos ampliar. Lula é um filme que já vimos.” Para reforçar os argumentos, Brizola tira do baú críticas aos petistas. “O PT apresenta um programa suplente do PSDB. Aliás, o programa não é do PSDB, ele vem de fora”, insiste, incansável.