Ex-bailarina do Grupo Corpo e hoje crítica de dança, a mineira Inês Bogéa se tornou uma das figuras mais autorizadas a contar a trajetória da exemplar companhia de Minas Gerais. Por 12 anos ela calçou as sapatilhas da trupe e, até 2000, vivenciou na prática o grande salto qualitativo do Grupo Corpo, que vem sendo repetido a cada novo trabalho desde a coreografia divisora de águas, A missa do orfanato, de 1989. Agora, com Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo (Cosac & Naify, 208 págs., R$ 35), Inês resolveu fazer um perfil da sua antiga companhia, organizando um volume bilíngue escrito por profissionais de áreas diversas e ricamente ilustrado com fotos em preto-e-branco de José Luiz Pederneiras. A própria Inês faz uma apresentação recheada de informações sobre os principais trabalhos da companhia. No geral, são abordagens inovadoras da dança, em textos escritos por leigos e para leigos com um mínimo interesse na arte.

Afinal, é no mínimo instigante saber o que um escritor (Luis Fernando Verissimo), um artista plástico (Marco Giannotti), uma psicanalista (Maria Rita Kehl), um filósofo (Renato Janine Ribeiro), dois professores de literatura (Eliane Robert Moraes e Arthur Nestrovski) e dois jornalistas (Humberto Werneck e Zuenir Ventura) têm a dizer sobre a arte do movimento ao ritmo hipnótico da música.

Eliane, por exemplo, mergulha nos “requebros e molejos” usados pelo coreógrafo Rodrigo Pederneiras. Werneck focou a gênese musical dos trabalhos e Janine Ribeiro cunhou o conceito de leigo culto para nomear a si próprio um não-especialista que se apóia nos elementos paralelos ao espetáculo para buscar seu sentido. Permitir leituras tão variadas sobre seus balés parece ser, aliás, um dos traços singulares da companhia, que, em 26 anos de carreira, sempre abriu espaço para artistas de várias áreas, personalizando seu trabalho através de visões múltiplas.