Falar sobre aquecimento global, o temido processo que poderá levar ao derretimento das calotas polares, é uma atividade freqüente em um micropaís localizado no Pacífico Sul: Tuvalu. Esta nação de pouco mais de 11 mil habitantes, a quarta menor do mundo, tem debatido o tema até mesmo entre as crianças. A razão é a ameaça que ronda o pequeno paraíso. Cientistas estimam que, com o aumento do nível do mar provocado pelo degelo, Tuvalu será engolida pelas águas em aproximadamente 50 anos. Se os perigos do aquecimento se confirmarem, todo seu belo conjunto de ilhas e atóis coralinos (formações de recifes e lagoas) sumirá do mapa, criando uma verdadeira Atlântida.

As discussões em torno do aquecimento global não são consensuais. Há mesmo quem diga que o planeta não está esquentando de modo generalizado. Porém os tuvaluanos estão vendo, a seus pés, que as águas estão roubando mais espaço das areias. Uma estimativa do escritório australiano de meteorologia aponta que o nível do mar nas ilhas tem subido cerca de seis milímetros todos os anos. Diante disso, o governo começou a clamar por providências, especialmente junto aos países desenvolvidos – os principais poluidores. Recentemente, o primeiro- ministro de Tuvalu, Tavau Teii, usou até de ironia na tentativa de exigir medidas práticas e urgentes que livrem a pequena nação do perigo. “A alternativa é que nós nos tornemos peixes para viver debaixo d’água”, declarou.

Ambientalistas vêm dando o alerta há algum tempo – desde a década de 90 os tuvaluanos estão avaliando as modificações climáticas em seu país. Mas nos últimos meses a questão ganhou força nas esferas governamentais. Neste ano, o conselho de segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) colocou em pauta, em sessão especial, as mudanças climáticas. Desse modo, definiu o aquecimento global como uma matéria de preocupação à segurança dos países. Entre os palestrantes estava Afelee Pita, o representante de Tuvalu na ONU. Suas palavras foram contundentes: o mundo precisa enfrentar o fenômeno como se estivesse entrando em uma guerra. Segundo Pita, o aquecimento do oceano está mudando a natureza da nação. Os recifes de corais estão morrendo e os peixes, sumindo. Além disso, há um aumento na ocorrência de fortes ciclones. “Como nosso ponto mais alto está a quatro metros do nível do mar, essa ameaça é extremamente perturbadora”, salientou.

Qual seria a saída para Tuvalu? Não há muitas opções. Uma delas requer um esforço grande das nações para efetivamente reduzir a emissão de poluentes na atmosfera, combater o efeito estufa e evitar, desse modo, uma catástrofe motivada pelo derretimento das calotas polares. É o que desejam os moradores que querem permanecer no lugar onde nasceram. Pede-se ainda ajuda financeira para criar projetos que permitam melhorar a infra-estrutura das ilhas, como meio de evitar um desastre maior. Outra proposta é que sejam montados programas para dar abrigo e trabalho em terras estrangeiras para os habitantes das ilhas. Isso porque já está havendo um êxodo de tuvaluanos. Quem deixasse Tuvalu seria considerado refugiado climático. O termo é uma novidade. Normalmente, refugiados são os indivíduos que sofrem alguma perseguição política ou que fogem de uma guerra. A Convenção de Genebra, por exemplo, não inclui a crise ambiental como argumento para os pedidos de asilo.

Na esteira desse debate, especialistas em direito internacional aderiram à causa. Com a possível submersão do país, eles se perguntam se os direitos dos habitantes igualmente desaparecem. Os tuvaluanos ficariam apátridas? Afinal, teriam um berço apenas virtual. A questão não está resolvida. De qualquer modo, os ilhéus estão partindo. Na Nova Zelândia, um país “vizinho”, a comunidade de imigrantes aumenta significativamente. Entre 1996 e 2000, o número de nativos de Tuvalu que mudaram para a região mais do que dobrou. Há uma lei na Nova Zelândia que oferece ajuda a 750 novos refugiados todos os anos. Eles recebem garantia de casa e mesmo serviços de aconselhamento. Nos dias em que o frio neozelandês se intensifica, os tuvaluanos sentem muitas saudades de sua terra ensolarada. A terra que pode sumir junto com suas tradições.

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