Os críticos do celibato, uma das normas da Igreja Católica, ganharam importante apoio no Brasil. Formado por 110 pessoas, foi criado no sábado 29, em Santa Catarina, o grupo Leigos cristãos na contramão, movimento apoiado pelos padres que não podem expressar sua opinião por conta da hierarquia da Igreja. Um dos líderes é Carlos Roma, que por 11 anos estudou para ser frade franciscano mas deixou a religião e conheceu a mulher de sua vida. Agora casado e com um filho, ele sonha em voltar a ser padre: “Gostaria de retornar como diácono ou sacerdote. A condição atual causa carência afetiva e sexual aos padres.” Há outros pontos polêmicos entre as reivindicações. O grupo quer a revisão da situação dos casais em segunda união, que não podem comungar, e a ordenação de mulheres. “Quero celebrar uma missa”, diz Maria Aparecida Patzlaff, casada há 21 anos e mãe de três filhos. O primeiro ato do grupo foi redigir uma carta e enviá-la ao papa Bento XVI.

O grupo recebeu uma mensagem do ex-frei Leonardo Boff, um dos criadores da Teologia da Libertação – linha religiosa que teve força nos anos 80 e que defendia a participação da Igreja na luta contra as desigualdades sociais. “O Vaticano não quer saber de mulher perto do altar, pior ainda em cima dele”, escreveu Boff. “Vale a pena pressionar.” As primeiras reuniões foram realizadas em Luzerna, a 600 quilômetros de Florianópolis, na paróquia do frei franciscano David dos Santos. “Fico orgulhoso por constatar que o povo não está omisso”, diz ele. “Os passos neste caminho serão difíceis porque Roma é radicalmente contra.”

Os participantes sabem o que enfrentarão. “Temos consciência de que não haverá mudança a curto prazo. Mas esperamos que ao menos a médio prazo a Igreja se sensibilize”, diz Maria Aparecida. Eles garantem que uma ala grande da Igreja é simpática à causa, “mas só um movimento de leigos, como o nosso, pode levar essa discussão à frente”.

O grupo, que recebeu centenas de mensagens de apoio, espera mais adesões. E o debate deve esquentar nos próximos meses: em janeiro será realizado em Recife o Encontro Nacional de Padres Casados, do qual participarão sacerdotes que foram suspensos pela Igreja depois do matrimônio.

Professor da PUC de São Paulo, o teólogo Fernando Altemeyer Junior avalia o movimento: “O fim do celibato não é um dogma, mas uma disciplina normativa. Isso quer dizer que pode ser modificado, mas não acredito que a Igreja faça isso nos próximos 50 anos.” A possibilidade de ordenação de mulheres como sacerdotisas é completamente descartada à luz do Vaticano. Há uma leitura teológica feita pelo cardeal Joseph Ratzinger, antes de se tornar Bento XVI, que proíbe até mesmo o debate sobre o tema. Na vinda do papa ao Brasil, em maio, integrantes da Igreja no Brasil propuseram a discussão do assunto. A idéia foi rejeitada pelos representantes dos outros países latinoamericanos.

Agradecimentos: Casa Agência e Universo Fantasias

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