Cuidar dos filhos, da casa e cozinhar. Quem pensa que essas tarefas são exclusivas das mulheres provavelmente ainda vive no século passado. De acordo com a pesquisa Novo Homem – Comportamento e Escolhas, do Ibope Mídia, os machos de antigamente – durões, independentes e autoconfiantes – deram espaço a um homem mais sensível, companheiro e flexível. Além de trabalhar fora, os homens garantem que são capazes de cuidar de seus filhos e desempenhar as mais diversas tarefas domésticas. Essa mudança está ligada ao fato de que as mulheres, que antes só cuidavam dos filhos e da casa, passaram a trabalhar fora também. “Eles tiveram de se adaptar a essa nova realidade cotidiana. Por isso, o novo homem é resultado de uma lapidação ao longo do tempo”, diz Dora Câmara, diretora comercial do Ibope Mídia. A pesquisa foi feita a partir de informações do banco de dados do instituto e de um estudo específico, o Especial – O Novo Homem. Nesse último, foram realizadas três mil entrevistas com pessoas do sexo masculino com mais de 18 anos, nas dez principais regiões metropolitanas do País, de 3 a 9 de setembro.

A relação do homem com a família e com a casa é cada vez mais próxima. Segundo o estudo, 50% dos pais deixariam de trabalhar fora para cuidar dos filhos e da casa – o mesmo índice registrado entre as mães, em uma pesquisa anterior sobre mulheres contemporâneas, também realizada pelo Ibope. Outro dado, igualmente surpreendente, aponta que 90% deles afirmam que são capazes de tomar conta da residência e dos filhos sozinhos. É o caso do advogado Joel Vaz Filho, 31 anos. Casado com Gabriela, também advogada, é pai de Raphaela, de sete meses. “Eu a levo ao médico e para tomar vacina, dou mamadeira e troco fralda”, diz Joel. “Só não consigo botar para dormir.” Enquanto os pais trabalham, Raphaela fica com a babá.

O relacionamento desse novo homem com a família faz dele uma pessoa caseira. Para a felicidade das mais ciumentas, ele prefere passar uma noite calma em casa a sair. Por outro lado, morar sozinho não chega a ser muito interessante. Somente 12% dos homens acima de 25 anos vivem só. Embora a grande maioria dos solteiros seja independente financeiramente, 61% deles preferem o contato e a conveniência de dividir o mesmo teto com os pais.

O estudo aponta ainda que mais de 70% dos homens realizam tarefas domésticas e 66% fazem supermercado. O músico Marcelo Osório, 31 anos, é um deles. Mora com os pais, tem empregada doméstica, mas não abre mão de cuidar dos objetos do quarto – é lá que funciona seu estúdio e onde ele guarda seus instrumentos. Ele também mantém a ordem e a limpeza na casa de amigos próximos. Na semana passada, por exemplo, fez um jantar fora de casa e não deixou louça suja nem chão grudento para trás. “Depois de comer, as mulheres foram bater papo na sala. Preferi continuar bebendo meu vinho e arrumar a cozinha”, diz. Osório acredita que é sinal dos tempos. “Antes os homens sentavam para assistir ao futebol e as mulheres ficavam na cozinha. Agora inverteu”, acredita.

O lugar mais importante da casa para metade deles já é a cozinha. É nela que encaram as panelas por necessidade e também por gosto. Segundo o estudo, os brasileiros que melhor se relacionam com a cozinha são os acima dos 40 anos e os de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O músico Sérgio Soffiatti, 36 anos, aprendeu a cozinhar naturalmente. Começou vendo a mãe preparar seus pratos preferidos e, hoje, seu forte é comida mexicana, especialmente tortillas e guacamole. “Minha cozinha é pequena, mas toda equipada”, diz ele, que nasceu em Curitiba e mora sozinho em São Paulo. O músico começou a exercer esse lado ainda adolescente em viagens com os amigos. Há algum tempo, o prazer quase virou profissão. “Andei meio desacreditado da música e cheguei a prestar vestibular para um curso de gastronomia, mas não passei e deixei para lá”, diz.

Diante disso, não é de estranhar que os homens de hoje se considerem preparados para lidar com mulheres mais bem-sucedidas que eles, como indica a pesquisa. Nessa questão, os menos preparados são os de Campinas, interior de São Paulo, e Florianópolis, em Santa Catarina. E enganase quem pensa que esse homem multifunções sofre com o acúmulo de tantas tarefas. Apenas 47% dos pais consideram difícil conciliar trabalho, paternidade e casamento. Bem diferente das mães: 68% delas pensam assim em relação à sua carreira, filhos e marido. Ponto para eles.