Tem gente que reclama que a propaganda eleitoral é tudo a mesma coisa.

Mas como esperar propagandas diferentes para vender soluções para os mesmos problemas?

Problemas como a Economia em crise; a Educação abandonada; a Saúde aos frangalhos; a Segurança Pública um caos; a cultura esquecida; o saneamento beirando o inexistente e a imagem do Brasil lá fora, dilacerada.

O que varia é apenas a duração do programa e, claro, o recado final de cada candidato.

Arrisco um roteiro:

Câmera abre com uma cena de drone sobrevoando uma comunidade carente.

Crianças brincam no esgoto a céu aberto, a trilha é um piano bem triste, de fazer carcereiro chorar de emoção.

O locutor, em voz grave, localiza a cena numa comunidade próxima a um centro urbano, ou na caatinga, tanto faz.

Corta para uma senhora, em roupas humildes, mas com as feições cativantes de uma Tia Anastácia, afirmando que ela e sua família apenas sobrevivem, abandonadas pelo Estado.

A trilha sobe com a adição da sessão de cordas da orquestra.

Recortes de manchetes de sites e jornais comprovam o que a eleitora acabou de expor.

Um senhor, num bar, lembra como era diferente quando o candidato em questão era prefeito, governador ou presidente.

Uma criança, puxando uma carroça diz que tem muita saudade de quando podia estudar. Uma mãe lembra de quando todos tinham vagas nas escolas.

Entra o candidato, no meio da comunidade, cercado de gente querendo tirar uma selfie.

Ele ergue um bebê sujo de lama. Câmera fecha em seu sorriso. Congela.

O povo grita seu nome. Uma mulher chora ao ver o candidato tão de perto.

Fade out.

Fade in numa reunião de banqueiros ou sindicalistas, na FIESP ou num sindicato.

Todos escutam, comportados, o candidato apresentando um power point com seu plano econômico, criado pelo mesmo grupo responsável pelos anos de maior crescimento de nossa economia.

Close quando um banqueiro, ou um líder sindical, faz que sim com a cabeça e aplaude.

Entram cenas do candidato abraçando Obama, a rainha, Putin ou passeando por Paris.

É o Brasil respeitado no mundo todo.

Chega o segmento das obras que realizou. Muito concreto agora. Rodovias, pontes, portos, estradas de ferro. Numa cena de helicóptero em uma plataforma da Petrobras, centenas de operários acenam para a câmera.

Salta para o inevitável trecho sobre o Meio Ambiente. Aéreas do Rio Amazonas e da selva a perder de vista.

O candidato entre os indígenas, dança a cerimônia da amizade. E, ao fundo, uma criança num laptop.

É nesse ponto que, finalmente, o programa se diferencia, com cada candidato dando seu último recado.

A propaganda eleitoral é a prova de que o seu dinheiro foi bem aplicado

Felipe D’Avila joga um balde de tinta laranja do alto de um prédio na Avenida Paulista. Ninguém entende a razão, mas a cena é linda, em câmera lenta.

Soraya diz que é a única candidata honesta desde D. Pedro II, que apoiar Bolsonaro é coisa do passado e que todo mundo tem direito de mudar de opinião.

Tebet aparece numa sala de aula dizendo que não vai levar desaforo para casa e que seus números não param
de crescer. Mostra os mesmo números da semana anterior.

Ciro diz que vai fechar o Serasa para que todo brasileiro possa gastar dinheiro à vontade, sem medo de sujar seu nome.

Lula alega que a Lava-Jato foi uma farsa e que a ONU o inocentou. Num suposto erro de edição, trocam sua imagem pela de Gandhi.

Bolsonaro beija a Michelle durante culto evangélico, num palanque e, no churrasco apela para o coração, que é sua marca registrada.

Propaganda eleitoral. Tudo igual, mas com aquele toque final que convence quem já está convencido.

E você pode ficar feliz, afinal, pagou por tudo isso.