Alguém aí tem alguma ideia de quanto a Sabesp desperdiça em água no caminho entre os reservatórios e a sua casa? Só em 2013 foram 31,2%! Isso significa que de cada 100 litros de água que saíram das represas de São Paulo, apenas 70 chegaram às nossas torneiras! Essa conta não é minha, é da Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp).

E por acaso você sabia que há pelo menos uma década a Sabesp tem informações precisas de que a demanda por água na região metropolitana de São Paulo cresce muito mais do que a capacidade do Sistema Integrado de Abastecimento, que opera oito sistemas de produção? E que para atender os 20 milhões de consumidores seria necessário aumentar em pelo menos 500 litros por segundo ao ano essa entrega de água? Esses números também não foram calculados por mim. Eles são da Seade, a Fundação Estadual de Análise de Dados.

Se há tanto desperdício na distribuição e se há anos se produz menos água do que a demanda efetiva da população, você sabe por que não se faz, já há bastante tempo, uma campanha de conscientização para reduzir o consumo na região metropolitana de São Paulo?

A conclusão, essa sim é minha – mas poderia ser de qualquer um dos senhores leitores: a Sabesp é uma empresa de economia mista, com ações negociadas em bolsa. Do ponto de vista de resultados, portanto, menos consumo significa faturamento menor e consequentemente menor lucratividade e piores balanços financeiros para a empresa. Eureca!

Agora estamos aqui, comprando galões de água por R$10, tomando banhos cronometrados de dois minutos e ainda assim sob a iminência de um racionamento radical. Imaginem a situação de uma indústria que depende de água para produzir – e da venda da produção para pagar seus funcionários. Imagine os restaurantes obrigados a comprar água de caminhões-pipa para não fechar as portas. Todo mundo defende que não se deveria usar detergente em excesso nem jogar óleo na pia para não prejudicar o reúso, que não se deveria deixar a torneira aberta ou lavar as calçadas, etc., etc. Ok, faz todo sentido ter cidadãos conscientes dos excessos no consumo de água. Mas cada um desses cidadãos, constantemente patrulhados para economizar o líquido precioso e permanentemente bombardeados diante de qualquer deslize no tema, tem o direito de perguntar: por que as ocupações em áreas de mananciais não foram controladas no Estado de São Paulo? Por que há tanto despejo de esgoto in natura em córregos e rios? Por que não há um planejamento urbano mínimo? Por que tudo que poderia nos poupar do vexame das torneiras estéreis não foi planejado há tempo e de maneira eficiente pelo poder público, que dispunha de todas as informações necessárias, mas parece ter feito pouco mais do que rezar para que as chuvas continuassem em ritmo abundante?

E se assim é, gostaria de pelo menos botar os pingos nos is. Se falta água, a culpa não é apenas da falta de chuvas. A culpa não é unicamente do excesso de calor. E, muito menos ainda, a culpa não é minha. Nem sua. Nem de nenhum de nós que está fazendo o possível para reduzir o gasto de água. A culpa, enfim, não é de quem consome o que precisa e paga por isso.

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Ana Paula Padrão é jornalista e empresária


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