Na sexta-feira 6, o conselho de administração da Petrobras oficializou o nome de Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, para o comando da estatal. Em contraste com as indicações anteriores para o primeiro escalão, a escolha do novo comandante da Petrobras foi uma das boas apostas da presidente Dilma Rousseff para o segundo mandato. Bendine construiu uma carreira sólida no BB, onde está há 37 anos. No comando da instituição desde abril de 2009, o executivo levou o banco a atingir resultados sólidos e lucrativos, tornando-o um dos mais rentáveis do País. Entre 2009 e 2013, o volume de financiamentos dobrou de R$ 320,7 bilhões para R$ 692,9 bilhões, o total de ativos saltou de R$ 708 bilhões para R$ 1,3 trilhão e os juros baixaram. Há dois anos, o presidente do BB inovou e comandou a maior abertura de capital do mundo, captando R$ 11,47 bilhões no IPO do BB Seguridade. É esse espírito renovador que o executivo deve levar para a Petrobras, hoje submersa na maior crise da sua história.

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Bendine assume a estatal em um dos piores cenários imaginados para a empresa. As ações da petroleira ruíram, diretores prestigiados foram presos e decidiram contar detalhes sobre as fraudes que abalaram os lucros da Petrobras. Além disso, há processos judiciais em curso que podem gerar multas bilionárias à petroleira brasileira, o que aumentaria ainda mais seus problemas financeiros. A ex-presidente Graça Foster deixou o cargo em meio a denúncias de corrupção e às incertezas sobre os reais prejuízos causados pela ingerência política e partidária na empresa. Sua gestão acumulou prejuízos de R$ 225 bilhões e ela ficou com o ônus de um escândalo que, embora não tenha surgido em sua gestão, cresceu e consolidou-se com ela no comando da estatal.

Diante desse cenário, o novo presidente recebeu a garantia de que terá autonomia para renovar a gestão da empresa impondo seu estilo. Os desafios não serão poucos. Os investimentos mal planejados de refinarias em lugares que não contavam com a mínima estrutura e a opção pelo polêmico sistema de partilha para a exploração do petróleo no País, em vez dos critérios de concessão usados em nações desenvolvidas, são alguns dos pontos que a nova diretoria terá de enfrentar. Além disso, o novo comando da estatal entende que, para estancar a crise que abate a petroleira, será preciso começar por um levantamento honesto e realista sobre o tamanho dos estragos causados pela corrupção e má gestão nos últimos anos.

Há duas semanas, a então presidente Graça Foster comprou uma briga com o Planalto ao divulgar o balanço que apontava para um rombo de R$ 88,6 bilhões nas contas da empresa, ressalvando que os números não haviam sido auditados e tampouco incluíam todos os valores desviados por gestores que cobravam propina em troca de contratos. No balanço divulgado, Foster afirmou que a estatal chegou ao valor de R$ 4 bilhões de perdas pelos desvios, levando em conta a informação fornecida pelo ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa, de que era cobrado 3% em propinas para cada contrato fechado. Mas admitiu: “O valor pode ser ainda maior”. Os números imprecisos geraram uma ação administrativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contra a estatal. A comissão argumenta que compete à administração da companhia “elaborar demonstrações financeiras que resultem na evidenciação de informações fidedignas sobre a situação financeira, patrimonial e o desempenho da sociedade”, o que não aconteceu.

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A gestão de Bendine terá início efetivamente depois da divulgação do balanço trimestral da empresa, embora os novos diretores não tenham participado do estudo. Dilma Rousseff tentou poupar o novo presidente de um possível desgaste, pedindo que Graça Foster permanecesse no cargo até assinar o balanço sobre os resultados da sua própria gestão. Pela primeira vez, Foster disse não. Foi seguida por cinco dos sete diretores e o mercado reagiu bem à renúncia coletiva. A saída do grupo era esperada desde o fim do ano passado, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que detém detalhes das informações da Operação Lava Jato, afirmou que Dilma deveria ter destituído a diretoria da estatal desde o início das investigações da operação, que fez a Petrobras submergir no escândalo de corrupção. A partir de agora, as chances de recuperação da Petrobras parecem reais, com a chegada de um executivo de carreira sólida, que tem no currículo resultados consistentes para apresentar e metas financeiras atingidas. É um bom começo para o início da reconstrução da imagem da empresa que é o maior patrimônio brasileiro.

Foto: Adriano Machado/AG. ISTOE; AndrÉ Coelho/Agência O Globo