A terapia com essências florais, uma das técnicas da medicina alternativa, já teve seus momentos de maior fama. Muito badalada na década de 90, perdeu boa parte do fã-clube com a divulgação de outros métodos de tratamento, como a acupuntura e a massagem shiatsu. Mas a reação está a caminho. O surgimento de novas formas de aplicação e a grande variedade de essências estão ajudando a recuperar uma parte do público que confia nos florais. Está crescendo, por exemplo, o uso de florais em spray para cuidar do ambiente em casa e no trabalho. As essências também estão entrando na rotina de creches e instituições para idosos. E se no princípio os florais mais conhecidos eram de origem inglesa, desenvolvidos por Edward Bach, atualmente há cerca de 60 famílias de essências. Podem-se usar gotinhas do Alasca, da Califórnia, da Austrália e até das montanhas de Minas Gerais, da Amazônia ou de Saint Germain, feitas com flores de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. A terapia floral defende que as suas essências têm a capacidade de vibrar dentro do corpo, despertando qualidades e virtudes e liberando emoções guardadas. “Sua energia é chamada de vibracional e age em níveis sutis para equilibrar as emoções”, explica a farmacêutica Amarylis Toledo César, da HN-Homeopatia Cristiano, de São Paulo.

Alan Rodrigues
Paola usa produtos aromatizados para elevar o astral no escritório. Outros, como os dois acima, não têm perfume

Astral – A intenção de quem borrifa florais no ambiente é contar com essa ação para aliviar tensões. “As essências melhoram ambientes pesados, carregados de rancor e competição”, afirma a terapeuta floral Patrícia Wiesenthal, que indica essências do Alasca com nomes sugestivos como Guardian (guardião) e Calling All Angels (chamando todos os anjos). A gerente de marketing de novos projetos da Brastemp, Paola Campanari, 31 anos, diariamente aplica alguns jatinhos desses florais com aroma suave no escritório para espantar qualquer baixo-astral. Existem outros sprays que não têm perfume. “Algumas pessoas sentem mudança no astral. O clima fica mais leve”, garante Paola. A analista de sistemas Cynthia de Andrade, da Bolsa de Valores de São Paulo, onde o clima de tensão é constante, criou outra rotina. A pedidos, ela borrifa a sua mistura floral favorita em mais de uma dúzia de colegas. “Quando comecei a usar, há quatro meses, eles riam, mas agora vêm pedir. As pessoas se sentem cuidadas”, diz.

O atendimento a famílias e pessoas carentes é outra via de popularização do uso de essências florais. Integrante de uma cooperativa voltada para o uso de terapias alternativas em projetos sociais, o psicólogo Régis Mesquita, de Campinas (interior de São Paulo), ministra florais, por exemplo, aos idosos da entidade Lar Antônio Xavier. “Faço o diagnóstico, a indicação dos florais e o acompanhamento terapêutico. Pode haver necessidade de cuidar da depressão, aumentar a interação, estimular a memória ou tratar da agressividade”, explica. Ele também recorre às essências florais durante as reuniões de um grupo de mulheres da periferia. “As essências podem melhorar a dinâmica de grupo”, ensina.

Alex Soletto

No Lar São Francisco, um abrigo municipal para crianças agredidas física ou moralmente pelas famílias localizado em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, a estratégia para estimular o bem-estar é tratar cada criança que chega com gotinhas de nomes sugestivos como Fraternidade, Alegria, Compaixão, Sorriso, criados pela terapeuta Maria Grillo, que acompanha de perto o trabalho. “Os florais ajudam a resgatar qualidades e sensações positivas”, explica Maria. Essas essências também vêm sendo usadas no treinamento dado pela terapeuta Maria a agentes de saúde do município. Outra instituição que usa os florais (os de Bach) no tratamento de crianças e adolescentes de baixa renda é a Casa do Zezinho, localizada numa região de extremamente violenta na periferia de São Paulo. Lá, os florais são utilizados para ajudar as crianças a lidar com seus medos e traumas.

Em Bertioga, no litoral paulista, com o apoio da prefeitura local, um grupo de terapeutas voluntários da Associação Brasileira de Essências Florais dá atendimento gratuito à população caiçara. “Diagnosticamos e distribuímos gratuitamente os florais certos”, explica Eneida Mara Rodrigues, presidente da entidade. Com tantas novidades, alguns médicos e críticos que classificam os florais como a mais genuína bobagem têm vasto material para esculhambar os mais crédulos. Na mesma intensidade, quem acredita está vibrando de alegria.

Agradecimento: HN-Homeopatia Cristiano, de São Paulo

O boom de terapeutas
Ninguém sabe o número certo de terapeutas florais existentes no País, mas é fato que ele vem crescendo. Como não há exigência de habilitação para atuar na área, muita gente se aventura sem o preparo necessário. “A opção para encontrar um terapeuta capacitado é perguntar a ele que tipo de experiência com florais possui e qual é sua formação”, orienta a biomédica e terapeuta floral Eneida Mara Gonçalves, presidente da Associação Brasileira de Essências Florais (Abreflor). Também existem cursos para quem deseja saber mais sobre essa terapia. Um deles, dado pela própria Abreflor, tem 360 horas e pode ser frequentado por pessoas com segundo grau completo. Outros cursos menos demorados ensinam a manejar famílias de florais específicos, como o Califórnia e o Alasca. Na Universidade de São Paulo (USP), a Faculdade de Enfermagem oferece a disciplina de práticas complementares para dar noções de terapia floral, massagem e toque terapêutico (um tipo de massagem energética).