A estudante Mariana Dias Coelho da Silva, 15 anos, sai todas as sextas e sábados com os amigos da escola onde estuda, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio. Seu roteiro inclui visitas a shopping centers, cinemas e pizzarias, mas, quando soa meia-noite, ela precisa estar de volta para não ter problemas com os pais. Fim de festa? Não, é apenas o começo. Mariana e seus colegas mal chegam em casa e correm para a frente do computador para se conectar ao ICQ (que vem do inglês I Seek You, ou eu procuro você), programa de comunicação instantânea de maior sucesso no mundo, com 88 milhões de usuários. Na frente do monitor, a garota conversa por mais três ou quatro horas – o recorde são sete horas seguidas. Fã de heavy metal, Mariana usa o programa para falar sobre música e trocar canções com mais de 90 amigos. Foi, aliás, com a ajuda do ICQ que ela conheceu o namorado, também metaleiro.

Comunicadores instantâneos surgiram como brincadeira de criança, mas são muito mais do que isso. Distribuídos de graça pela internet (leia quadro), eles permitem que o usuário crie uma lista de amigos com quem costuma conversar com maior frequência. Ao ligar o PC, o programa é acionado e avisa quais outras pessoas também estão online. “Os comunicadores instantâneos permitem que os internautas selecionem a dedo as pessoas com quem desejam conversar”, diz Marcelo Lacerda, diretor do Terra Networks Brasil, criadora do InstanTerra.

Tão populares quanto e-mails ou salas de bate-papo, os comunicadores instantâneos têm hoje mais de 200 milhões de adeptos no mundo e, segundo a consultoria Gartner Group, vão responder por 60% de toda a comunicação em tempo real no mundo até 2004. Segundo a America Online, dona do ICQ e do AOL Instant Messenger (AIM), que tem 84 milhões de usuários, o Brasil está entre os cinco países que mais utilizam a conversa eletrônica em tempo real.

“As pessoas sentem mais necessidade de se comunicar do que de acessar conteúdo”, diz Osvaldo Barbosa de Oliveira, diretor de negócios online da Microsoft, que há um ano lançou o comunicador instantâneo MSN Messenger, com 30 milhões de usuários no mundo.
O estudante de engenharia elétrica Michael Douglas Enders, 18 anos, aprendeu a valorizar a comunicação instantânea em 1999, quando embarcou para uma temporada de um ano de estudos em Haren, no Norte da Holanda. Michael despistava o fuso horário de quatro horas varando madrugadas para bater papo com os pais e os amigos que moram em Natal, onde ele vive hoje.

Esses programas estão conquistando desde adolescentes até grandes corporações, que vislumbram na tecnologia uma forma mais rápida e econômica de comunicação entre funcionários, clientes e fornecedores. Estudo da consultoria americana Forrester Research mostra que, nos próximos dois anos, quase metade das maiores empresas do mundo pensa em instalar programas de comunicação instantânea.

Um exemplo vivo é o executivo paulistano Gustavo Succi, 26 anos, que trabalha na Disoft, empresa criadora de softwares para a área financeira. Ele não tem pudor em trocar mensagens com colegas sentados a poucos metros de sua mesa. “Recebo menos e-mails hoje em dia e o telefone fica mais tempo livre”, comemora Succi, que marca e desmarca reuniões, troca contratos e planos de negócios com seus clientes usando um desses comunicadores. “É mais prático e mais barato do que usar o telefone, o fax ou o serviço de motoqueiro”, afirma.

Succi enfrenta um problema comum a muitos usuários. Para se comunicar com todas as pessoas com que se relaciona, o executivo precisa usar três programas, pois os programas de diferentes empresas não falam entre si. É como se assinantes do provedor UOL não pudessem enviar e-mails para usuários do Terra ou do iG e vice-versa. Empresas como Microsoft e Yahoo buscam uniformizar a comunicação por meio desses softwares. “Devemos lançar em dois meses uma versão do MSN Messenger que se comunica com outros programas”, adianta Oliveira, da Microsoft. O objetivo real dessas empresas, porém, é fazer com que a America Online, que detém a maior fatia desse mercado, elimine a incompatibilidade entre seus programas e os dos concorrentes.

Quem quiser entrar para o clube das conversas ao vivo precisa tomar algumas precauções. Para começar, é sempre bom instalar a versão mais recente do programa para evitar a invasão de hackers. Outra cautela, que também serve aos fãs do e-mail, é tomar cuidado com o conteúdo das mensagens. Nunca se sabe quem vai estar usando o computador de seu amigo quando o arquivo com aquela fotografia da Tiazinha nua surgir de repente na tela…