A calmaria só reinará depois que as águas de março fecharem o verão. Até lá, o Brasil mantém o título de campeão mundial dos relâmpagos, com 100 milhões de raios por ano, três vezes mais do que nos Estados Unidos. Das 100 descargas elétricas que atingem a Terra a cada segundo, três são em solo brasileiro. Significa que, todos os anos, entre 100 e 150 pessoas morrem literalmente torradas por uma corrente mil vezes mais potente do que o chuveiro elétrico. Só em janeiro foram 17 casos fatais, a maior parte deles no Estado de São Paulo.

“O calor tropical é a principal fonte de formação das tempestades de verão e, portanto, dos raios, mas há fortes indícios de que o concreto das construções, o asfalto e a poluição das grandes cidades agravem o problema”, diz o engenheiro eletrônico Osmar Pinto Júnior, coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Pós-doutorado em eletricidade atmosférica, o engenheiro gaúcho estuda raios e trovões há mais de 20 anos e agora investiga a incidência de relâmpagos em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, em conjunto com a Universidade Texas A&M, dos EUA. “A poluição do ar leva à mudança na formação das particulas de gelo, que, ao baterem umas nas outras, produzem cargas elétricas que dão origem ao raio”, explica o técnico do Inpe.

Raramente alguém sobrevive quando um raio lhe cai na cabeça. Na maioria das vezes é apenas uma faísca que atinge a pessoa, ou então a corrente que vem pelo solo e sobe pelas pernas. A recomendação dos especialistas é simples: ao ouvir o primeiro trovão, que é o barulho do raio, procure um abrigo (leia quadro). No Brasil, o maior índice de acidentes fatais acontece em campos de futebol de várzea, enquanto nos EUA os cenários mais comuns de tragédia são os campos de golfe e os parques onde se faz piquenique debaixo de árvores isoladas.

O relâmpago é uma intensa corrente elétrica que resulta do rápido movimento de elétrons (as partículas negativas do átomo). Eles se agitam com tamanha rapidez que fazem o ar ao seu redor iluminar-se num clarão. Os raios obedecem ao princípio de que os opostos se atraem. Cargas negativas na base de uma nuvem são atraídas por cargas positivas perto da superfície terrestre e descarregadas de cima para baixo (o inverso pode ocorrer, mas é menos comum).

Ao contrário do ditado popular, os raios caem, sim, duas vezes no mesmo lugar. Um dos ícones de Nova York, o edifício Empire State, é alvejado, em média, 23 vezes por ano e chegou a ser atingido oito vezes em 24 minutos.