Por mais que cada músico afirme ou apenas dê pistas de que despreza o marketing pop, todos eles sempre dão um jeito de construir sua fama. Alguns de forma mais inteligente e divertida e até determinada para serem objetos de culto. O septeto escocês Belle & Sebastian encontrou um caminho bem criativo. Seu mentor, o vocalista, letrista, guitarrista e pianista Stuart Murdoch, costuma se recusar a divulgar fotos do grupo ou qualquer informação de seus membros. Quando lançou o primeiro álbum, Tigermilk, em 1996, a banda não fez nenhuma publicidade. Em vez de casas noturnas tocava em escolas e salões de igrejas. Mas como é muito competente no folk-rock que produz não precisou muito para o conjunto assumir uma aura mítica, pois poucos ouviam e conheciam aquele som especial e muitos apenas falavam sobre ele, aguçando ainda mais a curiosidade em progressão geométrica. No Brasil, a história não foi muito diferente. Começou com os modernos trazendo CDs do Exterior, desencadeando em seguida a propaganda boca a boca, o que confirma a vocação de mito de Belle & Sebastian. Agora, o grande público interessado na boa música pop pode se saciar. De uma só vez acabam de ser lançados no País os quatro discos da banda amparados por certa estratégia. Na tenda da gravadora Trama, por exemplo, armada durante o Rock in Rio 3, só deu Belle & Sebastian. Cada consumidor saía com Tigermilk, If you are felling sinister ((1997), The boy with the arab strap (1998) ou Fold your hands child, you walk like a peasant (2000) depois de ouvir apenas alguns trechos dos álbuns. Ou seja, a banda tem empatia e talento.

A criatividade vem a partir do nome, tirado do romance homônimo de Cécile Aubry sobre o garoto Sébastien e seu cão labrador Belle, que se transformou em seriado da televisão francesa. Quanto ao som, sem dúvida, pode-se dizer que é um dos mais criativos já produzidos durante a combalida década de 90, basicamente concentrada na frieza eletrônica. É um rock melodioso, com altas referências pop no uso de instrumentos de sonoridade sessentista. Apenas sonoridade, porque a química usada pelo septeto – que no primeiro álbum apresenta-se como um sexteto – é ao mesmo tempo o romantismo em crise e a emergência do final e início de milênio. Para acompanhar músicas nas quais entram piano, cello, violino, gaita, além, é claro, de guitarra, baixo e bateria, Murdoch escreve letras caudalosas. São temas existenciais, sacadas sobre o cotidiano e críticas irônicas, divertidas, sobre o poder, seja da rainha britânica ou dos Estados Unidos, a nação síndica do planeta. É difícil escolher qual dos quatro discos é o melhor. Talvez os três primeiros por ainda conservarem o vigor e a brincadeira antimarketing do início, o que lhes dava mais liberdade de serem divertidamente desconhecidos.