Alguns pesquisadores de renomadas instituições de pesquisa estão aportando por aqui. Desta vez, o objetivo não é ensinar aos médicos brasileiros as novidades da medicina. Ao contrário. Especialistas do Centro Cardíaco de Cleveland e do Massachusetts General Hospital, ambos nos Estados Unidos, aprendem com os cardiologistas do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo, uma técnica para tratar um tipo de arritmia que afeta apenas a parte externa do músculo. O problema atinge cerca de 5% da população acima de 60 anos e pode ser desencadeado pela doença de Chagas – causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e que provoca a destruição das células cardíacas – ou pelo infarto. O mal compromete a regularidade dos batimentos cardíacos. “Pretendemos aplicar a técnica nos Estados Unidos”, diz o cardiologista Reddy Vivex, do Massachusetts Hospital, em Boston.

Para acertar o compasso, os especialistas do Incor desenvolveram um método que consiste em introduzir um cateter até o saco pericárdico, estrutura que envolve o coração. Não é necessário abrir o tórax (intervenção adotada anteriormente). Agora, basta fazer uma punção com uma agulha. O cateter possibilita o mapeamento por fora do coração para detectar o local da arritmia. O problema pode ser resolvido por meio de aplicação de uma fonte de calor exatamente na área comprometida. O órgão, então, volta a bater normalmente. “Como o tratamento exige cortes mínimos, a pessoa fica internada apenas um dia”, explica Eduardo Sosa, um dos coordenadores do trabalho que resultou na técnica. “Dessa forma, melhoramos a qualidade de vida do paciente”, afirma o cardiologista Maurício Scanavacca, um dos responsáveis pela criação do método. É o caso da funcionária pública aposentada Maria Aparecida de Amorim, 48 anos, de São Paulo. Em 1987, ela descobriu que tinha a doença de Chagas. Apesar de ter feito o tratamento correto, a doença deixou sequelas no coração, causando arritmia. Com o passar do tempo, ela teve várias vezes taquicardia (batimento acelerado) e passou a sentir muito cansaço. O problema foi resolvido com a técnica do Incor. Hoje, Maria Aparecida está bem e é capaz de realizar atividades corriqueiras, como varrer a casa. Também voltou a fazer caminhadas. “Eu nasci novamente”, conta.