Depois de duas semanas de discussão, o Brasil fechou com o FMI um novo acordo que lhe dá o direito de sacar um empréstimo de US$ 13,8 bilhões até o final do próximo ano. O anúncio foi de US$ 15 bilhões, incluindo US$ 1,2 bilhão da negociação fechada em 1998 e que vigoraria até dezembro próximo. Com esse novo acordo, o governo ainda terá de produzir nas suas contas uma economia equivalente a 3,35% do PIB neste ano, e 3,5% do PIB em 2002. Em números, o arrocho total chega a R$ 85,9 bilhões, equivalentes a quatro orçamentos anuais do Ministério da Saúde. As metas fechadas com o FMI são mais salgadas do que as que valiam antes. O governo terá de cortar R$ 10 bilhões a mais do que previa o planejamento da equipe econômica, que já era conservador. Na terça-feira 7, durante o anúncio dos detalhes do novo programa, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, comemorou a rapidez com que o Brasil conseguiu acertar o empréstimo. “É uma demonstração da credibilidade que o Brasil conquistou”, declarou.

O anúncio em tempo recorde aliviou bancos e investidores, mas, na prática, não há muito o que comemorar. O País pediu socorro ao Fundo porque, sem ele, não conseguiria fechar as contas externas. Faltariam dólares para pagar as dívidas com bancos estrangeiros e organismos multilaterais. Com o agravamento da crise argentina e a retração da economia mundial, os investimentos externos, que vinham ajudando a fechar a contabilidade, já caíram quase 30%. E, mesmo com ele, não há garantia de que está livre do efeito tango, caso a economia argentina vá a pique. Nove entre dez analistas avaliam que o acordo reduz o contágio, mas não o elimina.

A agilidade alardeada por Malan pode passar a idéia de que as negociações foram fáceis. Pura ilusão. Elas foram rápidas porque havia muito pouco a discutir. Há três anos, o Brasil cumpre à risca os compromissos com o Fundo. Além disso, a última vistoria nos números da economia brasileira ocorreu há menos de um mês. Foi uma espécie de renovação. Para emprestar o dinheiro, o FMI pressionou por um arrocho ainda maior em 2002, de impensáveis 5% do PIB. A equipe de Malan conseguiu baixar para os 3,5% anunciados. Em relação ao índice de inflação de 5,8% fixado para este ano, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse que isso é apenas uma questão técnica e que o governo não desistiu de perseguir a taxa de 4% fixada antes.

O governo brasileiro queria contar com uma pequena folga para bancar compromissos externos que vencem nos primeiros meses de 2003. Só deu para conseguir do Fundo o direito de usar mais US$ 5 bilhões das reservas, dólares do próprio País, bloqueados pelo acordo anterior.

Dentro do governo, avalia-se que o pacote ficou no limite. Já os mais críticos acham que é pouco. “Se saírem mais recursos do que o esperado, como está acontecendo, a conta não vai fechar”, diz o economista Guido Mantega. Como o dinheiro só vai dar até o final de 2002, o sucessor de FHC poderá ter como primeiro compromisso uma nova rodada com o FMI.

Além de cálculos variados, o acordo produziu perplexidade. Convencido da eficácia da política de aperto fiscal receitada pelo Fundo, de 1999 até o final deste ano o governo terá deixado de aplicar em habitação, saúde e educação R$ 108 bilhões. Mesmo assim, continua vulnerável aos tremores externos e excessivamente dependente de financiamentos estrangeiros.

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