O que determina o padrão de beleza? Na indústria de cosméticos, a noção de estética acima de qualquer retoque está sendo substituída por outra, a da pluralidade. Em lugar de rostos de semideusas inatingíveis como os de Claudia Schiffer e Cindy Crawford, o que se vê nas campanhas de publicidade é a mulher de carne e osso, representada em sua variedade de estilos e etnias. A idéia é que, com o Olimpo da maquiagem aberto a mais modelos de perfeição, todas as consumidoras do mundo se identifiquem. A contratação da top model paraense Caroline Ribeiro como o novo rosto da Revlon, num contrato de US$ 6 milhões anuais, é um exemplo disso. A estonteante morena de 1,80 m, pele aveludada e olhos puxados – mistura de negro, índio e português – chama a atenção por ter um tipo diferente do angelical europeu.

Multirracial – Aos 21 anos, a bela Caroline caiu nas graças da Revlon depois de protagonizar campanhas da Versace, Louis Vuitton e Calvin Klein. Com apenas cinco anos de carreira, nos últimos dois fez mais de mil desfiles e passou a ganhar até US$ 100 mil por hora de trabalho. Após o contrato com a fabricante de cosméticos, tornou-se a modelo brasileira mais bem paga da história, depois de Gisele Bündchen (a quem pode substituir no ano que vem, na campanha da rede de magazines C&A). Mas vale ressaltar que, apesar de ser a maior estrela da campanha, ela não é a única. Ao seu lado, estão a também brasileira Luciana Curtis, 24 anos e salário anual de US$ 1 milhão, a modelo croata Ruza Madarezic, a americana Sarah O’Hare, a atriz negra Halle Berry e a oriental Lucy Liu, de As panteras. Sucessoras de Cindy Crawford, que por dez anos representou sozinha a marca, elas formam um caldo multicultural. “Estamos reciclando nosso elenco internacional, deixando-o menos americanizado”, diz Rogério Chain, gerente de marketing da Revlon no Brasil.

Em 1996, quando a brasileira Cristiana Reali substituiu Isabella Rossellini como o rosto da Lancôme, os mais ufanistas apostaram que a beleza nacional estava em alta. Mas a sua contratação simultânea à da atriz francesa Juliette Binoche e à da modelo espanhola Inès Sastre já era um sinal dessa segmentação. Atualmente Cristiana e Inès dividem o cetro com a atriz francesa Marie Gillain e a americana Uma Thurman. Diante de belezas tão distintas, não faz sentido falar em padrão. Exatamente como quer o fabricante. “Quando Isabella deixou a Lancôme, a marca sentiu muito. Percebemos que ela havia ganho mais destaque do que os produtos”, explica Anny Orenbuch, gerente de produto da Lancôme no Brasil. “Hoje, para atingir mulheres do mundo inteiro, temos uma modelo diferente em cada linha.”

A segmentação das campanhas de cosméticos veio para ficar. “As empresas se tocaram que, elegendo um único arquétipo de mulher, não atingem todas elas”, afirma Álvaro Novaes, presidente da agência J. Walter Thompson, de São Paulo. Não é de admirar, portanto, que ao lançar uma linha de maquiagem para adolescentes a Lancôme tenha optado por convidar Elizabeth Jagger, 17 anos, filha do líder dos Rolling Stones. Ou que a atriz francesa Catherine Deneuve, 57 anos, tenha sido a eleita da L’Oréal para uma linha para mulheres maduras.

Versatilidade – Levando essa idéia ao pé da letra, a L’Oréal adota faces diferentes ao redor do mundo. Personalidades como a atriz americana Andie MacDowell ou a ruiva Milla Jovovich, estrela do filme Joana D’Arc, são seus nomes internacionais. No Brasil, a variação é ainda maior. Não bastasse o contrato de cerca de US$ 1 milhão com Ana Paula Arósio – o maior já firmado no País até então e que prevê veiculação na França, em Portugal e nos Estados Unidos –, a marca contratou a apresentadora Babi, do SBT, a atriz Débora Bloch e o piloto Christian Fittipaldi para campanhas locais. Na semana passada, o ex-jogador Raí, um dos homens mais desejados do País, fechou contrato com a companhia para estrelar um comercial de xampu. Por aqui, os cachês para esse tipo de campanha, que exigem um ou dois dias de trabalho, giram entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. Cachês milionários como o de Caroline Ribeiro e Luciana Curtis, as musas brasileiras da Revlon, só em campanhas internacionais, que exigem de 15 a 45 dias de trabalho por ano e uma série de obrigações, como jamais emprestar seus lindos rostos a produtos de outra marca.

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