O paulistano Robert Scheidt precisou de um barquinho de 4,2 metros de comprimento e 1,40 metro de largura para atingir um ponto jamais alcançado por um brasileiro em um esporte individual olímpico. Na quarta-feira 8, Scheidt, 28 anos, conquistou o pentacampeonato mundial de iatismo na classe Star nas águas de Cork, na Irlanda. Além das vitórias na Laser em 1995, 1996, 1997, 2000 e 2001, Scheidt foi medalha de ouro nos Jogos de Atlanta, em 1996, prata em Sydney 2000 e campeão mundial juvenil em 1991, na Escócia. O brasileiro que mais se aproxima de Scheidt é o também velejador Torben Grael, que ganhou um ouro olímpico e três campeonatos mundiais. Nos esportes coletivos, o único a ter um penta é o Rei Pelé, tricampeão pela Seleção e bicampeão mundial pelo Santos – por sinal, o time do coração de Scheidt. “Agora estou com a mão cheia de títulos”, brincou o iatista após a vitória. “Vou tomar muita cerveja preta irlandesa na festa de comemoração”, prometeu.

Apesar de ter sido pressionado por jovens talentos como o português Gustavo Lima, Scheidt venceu sete das 11 regatas do campeonato. Seu favoritismo foi reforçado pela ausência de seu grande rival, o inglês Ben Ainslie, medalha de ouro em Sydney e campeão mundial em 1999. Ainslie deixou o campeonato para integrar a equipe americana que disputará as regatas da America’s Cup, a competição mais antiga do mundo. Scheidt chegou a se assustar com um inesperado 29º lugar na primeira regata de terça-feira 7. “Andei na contramão do vento”, conta ele. “Felizmente, meus grandes adversários fizeram o mesmo e erramos juntos. Na segunda regata, me recuperei com o primeiro lugar.” A vitória foi decisiva. Scheidt chegou para os tiros finais, na quarta-feira, precisando apenas de um 19º lugar. Na primeira regata, conseguiu uma boa posição nas rajadas de vento, fez uma prova conservadora e garantiu o título com o 13º lugar. Depois, relaxado, venceu o tiro final. Terminou o campeonato com 22 pontos perdidos, contra 59 pontos do português Lima. Muitos acham que o barco e a categoria Laser ficaram pequenos para Scheidt. Mas ele sonha em conquistar o segundo ouro nos Jogos de Atenas, em 2004, e igualar o feito do inesquecível Ademar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico no salto triplo em 1952 e 1956. “Não haverá mudanças radicais antes de 2004”, afirma o velejador.