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Dançando nas nuvens
Zhang e Michelle: lutas coreografadas como balés

Ang Lee, um dos mais bem-sucedidos cineastas asiáticos de Hollywood, está fazendo da surpresa sua marca registrada. Depois de filmar o choque cultural vivido por imigrantes chineses, de se aventurar pelo universo da escritora inglesa Jane Austen e de assinar até um drama histórico sobre a guerra civil americana, julgava-se que o próximo passo do diretor nascido em Formosa seria um musical ou um faroeste. Mas O tigre e o dragão (Crouching tiger, hidden dragon, Formosa/China/Hong Kong/Estados Unidos, 2000), cartaz nacional na sexta-feira 16, é uma verdadeira volta às origens, um cruzamento perfeito de épico romântico e filme de kung fu capaz de emocionar platéias dos oito aos 80, lembrando o velho slogan que o cinema americano parece ter esquecido.

A idéia de Ang Lee não foi só revisitar os enredos de artes marciais que ele via na juventude, mas também vencer um desafio. Para ele, um cineasta só pode ser assim considerado se passar pelo teste do gênero que fez a fama dos mestres de Hong Kong. A julgar pela beleza de O tigre e o dragão – premiado com o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e forte concorrente ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira –, Lee já pode se considerar um artista com todos os louros da consagração. Há tempo não se via nas telas a química perfeita de uma obra reunindo aventura, romance, tragédia, grandiosidade, fábula e fantasia. Passado durante a dinastia Qing, no início do século XIX, o épico acompanha os passos de dois guerreiros, Li Mu Bai (Chow Yun-Fat) e Yu Shu Lien (Michelle Yeoh), adeptos da filosofia taoísta, aquela que prega o aperfeiçoamento através da meditação e da força interior.

Espada mágica – Após ter uma visão mística, Li pede a Yu que presenteie seu mestre com uma espada de 400 anos, chamada Destino Verde. Cobiçada por todos pelo poder de invencibilidade, a arma é roubada pela jovem aristocrata Jen (Zhang Ziyi), que aprendera os segredos da luta marcial com uma espécie de bruxa. A partir daí se inicia um frenético redemoinho de lutas e lances heróicos dignos das melhores matinês do passado. Auxiliado pelo chinês Yuen Wo Ping, que coreografou as batalhas de Matrix, Lee criou verdadeiros balés com lutadores subindo pelas paredes, dando piruetas, andando sobre as águas ou simplesmente voando e desafiando a lei da gravidade como se fossem uma mistura de Fred Astaire com espadachins de contos de fadas. Um belo exemplo é o embate entre Li e Jen sobre a copa de um gigantesco bambual. Ao final, a tragédia e redenção de O tigre e o dragão deixa no espectador a sensação de que o mundo fora das telas é realmente muito chato.