fotos: Divulgação/Rede Globo
Paulo Betti com Ana Paula Arósio e Fábio Assunção (no destaque): nobreza e decadência

Eça de Queirós (1845-1900), o genial escritor português, certamente adoraria saber que o romance Os Maias, de 1888 – considerado sua maior obra-prima –, ativou polêmicas mais de um século após sua publicação. Adaptado por Maria Adelaide Amaral para a Rede Globo no formato de minissérie, Os Maias, na verdade uma mistura de situações de outras duas obras do autor, A relíquia e A capital, tornou-se um daqueles programas raros na televisão brasileira. Tem diálogos em bom português, o elenco e a maioria das atuações são de primeira, as locações verdadeiramente remetem ao passado e as imagens refletem com consistência o ambiente de nobreza e decadência. Mesmo assim, a minissérie milionária tem ancorado na vergonhosa média de 15 pontos, de acordo com a medição do Ibope, metade da expectativa da emissora. O que faz pensar que espetáculos de qualidade na tevê tupiniquim estão condenados a uma audiência elitizada.

Walmor Chagas como o velho patriarca: entre as boas atuações de um elenco afinado

Primeira co-produção internacional de vulto da Rede Globo, que fez parceria com a rede portuguesa SIC, da qual é acionista, Os Maias é uma superprodução de mais de R$ 10 milhões. Cada capítulo custa R$ 200 mil, o dobro do gasto na novela das oito. Não havendo retorno, há prejuízo. Portanto, corre-se o risco de não mais se ver boas atrações ocupando o horário tardio na tela da Globo. De acordo com o diretor Luiz Fernando Carvalho e a autora Maria Adelaide Amaral, a minissérie sofre rejeição apenas das classes baixas, desacostumadas a uma linguagem mais apurada. “É uma obra de maior complexidade e necessita de um espectador reflexivo”, alerta Carvalho. “A preguiça cultural está instalada no País”, completa ele. Maria Adelaide concorda com o diretor, mas aposta numa reação. “O público ainda engolirá esse biscoito fino, mas vai precisar de tempo para se habituar. É um outro código televisivo, outra linguagem, com um ritmo mais lento”, diz ela.

Fábio Assunção: nobreza e decadência

Por enquanto, a animação em torno da atração global concentra-se entre as editoras. Ivan Pinheiro Machado, da L&PM, conta que em 20 dias vendeu 12 mil exemplares de Os Maias. “Fizemos uma joint-venture espontânea com o dr. Roberto Marinho”, brinca ele. Todos os outros livros de Eça do catálogo da L&PM também estão praticamente esgotados. Fenômeno parecido se verifica nas editoras Ediouro e Nova Alexandria. Cada uma afirma ter vendido 20 mil exemplares de Os Maias, números significativos para o mercado literário brasileiro, no qual um sucesso editorial ronda a casa dos dez mil exemplares. Não deixa de ser um feito e tanto, mesmo que a minissérie não retome o caminho da ansiada audiência.