O fantasma do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, assusta. A sombra do poder político do cacique baiano tirou do ar o programa da TVE Observatório da Imprensa, apresentado pelo jornalista Alberto Dines. Na noite de terça-feira 6, Dines entrevistaria ao vivo o jornalista João Carlos Teixeira Gomes, o Joca, autor do livro Memória das trevas, uma devassa na vida de Antônio Carlos Magalhães. Em vez da entrevista, a estatal reprisou um programa com o escritor João Ubaldo Ribeiro. As gravações do Observatório estão suspensas por tempo indeterminado.

O episódio não repete a censura ao líder sem-terra João Pedro Stédile, no ano passado, que teve sua entrevista tirada do ar por pressões do Planalto. Na versão de Dines e do novo presidente da TVE, Fernando Barbosa Lima, não houve determinação superior para cancelar a entrevista de Joca. Dines, um crítico da censura e da imprensa, teria concluído que o programa prejudicaria a gestão de Fernando Barbosa Lima. Ele tomou posse na presidência da TVE no mesmo dia 6. “Não quero prejudicá-lo. Ele é a salvação da emissora”, afirmou Dines.

Carlos Magno
“Adoraria que a entrevista fosse ao ar. Teria muita audiência”
Fernando Barbosa Lima,
presidente da TVE

“Eu fiquei espantado quando o Dines me ligou na tarde de terça-feira para dizer que o programa tinha sido cancelado”, reagiu o autor do livro, que responsabilizou o apresentador pela suspensão. O novo presidente da TVE, Fernando Barbosa Lima, se exime de qualquer responsabilidade: “Eu não tenho nada a ver com isso. Disse para o Dines que o problema era dele e ele resolveria do jeito que achasse melhor. Eu adoraria que a entrevista fosse ao ar e com a participação do senador ACM, porque teria muita audiência.” Um dos motivos do cancelamento, segundo Dines, foi a negativa de oito dos nove jornalistas convidados para entrevistar Joca. O único que aceitou foi o chefe da sucursal de Brasília da ISTOÉ, Tales Faria.

“A recusa dos outros jornalistas reforça a tese que eu discutiria de que houve um boicote da imprensa ao livro. As pessoas têm medo de enfrentar ACM”, disse Dines. Ele afirmou que aproveitou o episódio para suspender o programa. “Espero que até lá a crise política no Congresso tenha acabado”, acrescentou o jornalista, argumentando que não quis pôr lenha na fogueira na briga entre ACM e o PMDB para não prejudicar Barbosa Lima. Segundo Dines, a decisão de suspender a entrevista também foi tomada porque a direção da TV Educadora da Bahia, do governo estadual, passou o dia telefonando para a TVE a fim de saber se o programa iria ao ar. “Eu entendi que a Bahia não retransmitiria. Isso tinha acontecido com uma entrevista do Joca à TV Cultura e que isso criaria um problema político.” Dines não classifica sua atitude como autocensura. “Eu publiquei uma nota explicando tudo e já mostrei que não tenho nenhum problema em criticar o senador ACM”, afirmou.