Depois de um longo período de silêncio, o senador José Sarney (PMDB-AP) recebeu ISTOÉ na quinta-feira 8 no seu apartamento em São Paulo, onde está convalescendo de uma cirurgia de retirada de vesícula, ocorrida no sábado, 3. Sarney faz política nas entrelinhas. Ao seu modo, responsabilizou Fernando Henrique Cardoso pelo nível da guerra na base parlamentar governista. Ele contava com o apoio do Palácio do Planalto para sua candidatura a presidente do Senado e agora reclama do fato de FHC não ter interferido na disputa. Ao se recusar a declarar sua preferência na eleição do Senado, dá sinais de que não votará no candidato de seu partido, Jader Barbalho. Mais: diz que é ilusão achar que o PMDB está unido. “O PMDB está muito fragmentado.” Bem-disposto e sem perder o bom humor, Sarney brincou com a recente cirurgia: “A minha vesícula sempre me defendeu, não passando o amargo da bílis para o meu temperamento. Por isso foi só entrar em crise no período eleitoral para me deixar de fora dessa briga.”

ISTOÉ – De quem foi a culpa da baixaria na disputa do Congresso?
José Sarney – De todos nós que não tivemos capacidade de evitá-la e não colocamos a funcionar os mecanismos regimentais previstos para esses casos. Dessa culpa não excluo a interferência do presidente da República, cujo cargo implica ser sempre um harmonizador de conflitos. O poder inclui essas intervenções. É um dos deveres da Presidência.
ISTOÉ – O sr. vota no senador Jader para presidente do Senado?
Sarney – Não vou responder.

ISTOÉ – Vamos falar dos aspectos éticos da briga ACM X Jader?
Sarney – Estes são inegociáveis e para isso existem os mecanismos legais que podiam ser acionados, para apurar culpados e punir responsáveis.

ISTOÉ – As acusações contra Jader e ACM são casos de cassação, a exemplo do que aconteceu com Luiz Estevão?
Sarney – Não falo. Não participo dessa briga, principalmente sem vesícula.

ISTOÉ – O senador Antônio Carlos Magalhães errou ao lançar o seu nome?
Sarney – Antônio Carlos falou em meu nome com um julgamento generoso das minhas qualidades. Apenas, como era natural, as pessoas que não desejavam que se encontrasse uma solução utilizaram isso para outro motivo.

ISTOÉ – O PFL, ao ter apostado num jogo do tudo ou nada com o veto ao Jader, não errou politicamente?
Sarney – É fácil julgar as coisas depois que elas aconteceram. Hoje, analisando, as coisas não foram boas para o PFL, mas o partido tem grandes políticos.

ISTOÉ – O presidente FHC vai ter mais dificuldades de governar depois dessa brigalhada?
Sarney – Ele não sabe, porque nenhum presidente sabe, e nem eu sabia, o que são os dois últimos anos de governo.

ISTOÉ – E o que são os dois últimos anos do governo?
Sarney – São difíceis, sempre difíceis.

ISTOÉ – O sr. acha que FHC elegerá seu sucessor?
Sarney – Os resultados macroeconômicos são bons. O País vai crescer. A situação social vai melhorar. Mas nada indica que isso tenha reflexos no resultado eleitoral. Coloquemos as barbas de molho com o exemplo Clinton.

ISTOÉ – Quais são os candidatos mais fortes?
Sarney – Na base do governo, José Serra, Tasso Jereissati, Paulo Renato; no centro, Ciro Gomes; e, na oposição, Itamar Franco e Lula. Se a base governista se desintegra, perde a condição de colocar o seu candidato no segundo turno.

ISTOÉ – E a governadora Roseana Sarney?
Sarney – Roseana já disse que deseja ser senadora pelo Maranhão. Ela tem destino político, mas tem juízo e não está com a mosca azul.