14/02/2001 - 10:00
Ricardo Stuckert |
“Vou fazer uma revolução na Câmara. Será o fim do caciquismo e a reconciliação da Câmara com a sociedade” Aécio Neves, deputado (PSDB-MG) |
Poucos parlamentares acreditavam que a candidatura do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) à presidência da Câmara fosse mesmo para valer. A crença generalizada no Congresso é que, na reta final, ele sairia do páreo. As trapalhadas de Antônio Carlos Magalhães, porém, levaram o PMDB a apoiar o tucano, dando consistência à candidatura e praticamente assegurando sua vitória. Em entrevista a ISTOÉ, Aécio condena o ranço autoritário de políticos, como ACM, que serviram à ditadura e transformaram a disputa pelo comando do Congresso numa guerra suja.
ISTOÉ – A que o sr. atribui essa guerra suja pelo comando do Congresso?
Aécio Neves – Infelizmente, neste processo ainda existem pessoas que trazem o ranço do regime autoritário, o método de fazer ameaças em véspera de eleições. Elas se acostumaram a décadas de comando das casas legislativas. Lamento tudo isso, porque passa uma imagem muito ruim do Congresso para a sociedade.
ISTOÉ – Quem são essas pessoas?
Aécio – O noticiário está cheio de exemplos.
ISTOÉ – O deputado Inocêncio diz que o governo está trabalhando descaradamente em favor de sua candidatura. É verdade?
Aécio – De jeito nenhum. Na verdade, isso é um desabafo do candidato do PFL que passa por um momento difícil. Passei toda a campanha tendo que negar que, na reta final, desistiria da candidatura por interferência do governo. Não fui eu quem trouxe o vice-presidente Marco Maciel e ministros para o lançamento da candidatura. E nem pedi a ministros que oferecessem cargos a parlamentares para que trocassem de partido.
ISTOÉ – Quem fez isso?
Aécio – O ministro da Previdência, Waldeck Ornelas. Os ministros que torcem por mim não fizeram isso. O agente do governo que se envolveu na campanha não foi o presidente da República, que é do PSDB, mas sim o meu amigo vice-presidente, do PFL.
ISTOÉ – Mas o deputado Inocêncio se apresenta como muito mais independente do governo do que o sr…
Aécio – Não é verdade. Minha candidatura não é um pêndulo, como a dele, que primeiro se declara o mais fiel, leal e submisso agente do governo e depois se declara o mais radical e destemperado líder da oposição. Não preciso abdicar das minhas convicções para chegar à presidência da Câmara.
ISTOÉ – Como ficará a base governista depois da eleição? O PFL sairá enfraquecido?
Aécio – É evidente que haverá alguma fratura mais exposta. Mas não temos intenção de fragilizar o PFL e nem de alijá-lo da aliança. O equilíbrio da aliança se dá no Executivo, que não pode ser um condomínio para distribuir cargos.
ISTOÉ – Se eleito, o que o sr. fará para melhorar a imagem do Legislativo?
Aécio – Faremos avanços ousados e importantes em espaço muito curto. Uma verdadeira revolução. Será o fim do caciquismo e a reconciliação da Câmara com a sociedade. Seremos firmes, rápidos e enérgicos na punição de desvios. Vou criar imediatamente uma comissão de ética e decoro que terá rito sumário. Como em outros países democráticos, a imunidade parlamentar vai se restringir ao exercício do mandato.