Fotos: Ricardo Stuckert
Gravações clandestinas e denúncias fazem parte do trabalho dos detetives Edilmar Lima e Juliana Belém, que criaram uma agência de contra-espionagem

As eleições para as Mesas da Câmara e do Senado levantaram um vendaval sobre Brasília, varrida por dossiês, boatos, fitas, grampos telefônicos e todo tipo de jogo sujo eleitoral. Assessores do Congresso foram escalados e investigadores particulares – muitos originários da área de informações –, contratados sigilosamente para escarafunchar a vida de adversários políticos. O grampo telefônico encontrado dentro do apartamento do líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), candidato à presidência da Câmara, foi o primeiro sinal visível de uma rede de bisbilhotice e denuncismo que corre solta e movimenta os dias quentes de Brasília. Na quinta-feira 8, a cúpula peemedebista se agitou com a notícia de que havia sido feita uma escuta clandestina na Bahia com gravações de conversas telefônicas entre deputados baianos que trocaram o PFL pelo PMDB.

A principal delas é um diálogo em que o deputado José Lourenço reclama com o ex-deputado Jonival Lucas a liberação de verbas para a prefeitura de um município de sua base eleitoral que teria sido prometida pelo líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima. Na gravação, Lourenço teria chamado Geddel e o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, de ladrões por estarem exigindo uma comissão de 20% para liberar os recursos. “Eu não disse nada disso. Isso é uma armação do senador Antônio Carlos Magalhães que está desesperado com a derrota no Senado. É muito fácil imitar meu característico sotaque português”, rebate Lourenço. Geddel Vieira acusa a Casa Militar da Bahia de estar promovendo espionagem em Salvador e de contratar investigadores em Brasília para grampear também seus telefones e os do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha. “Quem mandou fazer o grampo foi o ACM e seu assessor de imprensa Fernando César Mesquita é quem o está divulgando”, afirma Geddel. “O deputado está delirando”, defende-se Fernando César.

Com o apoio de Geddel Vieira Lima (à esq.) e de Michel Temer, Benito Gama muda de lado e cumprimenta Jader Barbalho (à dir.), arquiinimigo de seu ex-padrinho político Antônio Carlos Magalhães, ao trocar o PFL pelo PMDB

Nessa guerra pelo comando do Congresso, toda semana a Polícia Federal tem sido chamada para fazer varredura em algum gabinete ou apartamento de autoridade em Brasília. Um detetive gaúcho, importado para a capital, caminha para cima e para baixo com uma câmera escondida em sua pasta 007 e conta que foi contratado há um mês pelo assessor de um deputado para seguir os passos de outro, com quem disputa um cargo na Mesa. “Fiz barba, cabelo e bigode”, gaba-se. Ele assegura ter conseguido munição pesada para seu cliente. Outro investigador, Marcos Luís Macedo, um ex-militar da Inteligência da Aeronáutica, que já trabalhou até na Base Aérea de Brasília, revela que tem faturado alto com a venda de kits grampo para políticos – equipamentos de interceptação de conversa via rádio semelhantes ao usado na casa de Inocêncio. Numa das eleições mais concorridas e caras no Congresso, com reflexos sobre a eleição presidencial de 2002, documentos anônimos somam-se a sofisticados dossiês impressos e filmados.

Em resposta ao best seller Memórias das Trevas – uma devassa na vida de Antônio Carlos Magalhães, do jornalista João Carlos Teixeira Gomes, foram lançados dois livros com ataques a Jader Barbalho, com eleição praticamente assegurada para a presidência do Senado. Um deles, Anatomia de um corrupto – biografia não autorizada de Jader Barbalho, do jornalista Guálter Loiola, antes mesmo de ser lançado virou caso de polícia. Na quinta-feira 1º, o gráfico Marcos Barreto tentou extorquir R$ 100 mil de Jader Barbalho em troca da entrega dos originais do livro. Jader acionou o diretor da Polícia Federal, Agílio Monteiro, que preparou uma armadilha e prendeu Barreto em flagrante. A outra publicação, Jader Barbalho – o Brasil não merece, leva a assinatura do próprio ACM numa apressada e mal-editada colagem de acusações contra o presidente do PMDB.