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Pablo Escobar se tornou uma das maiores fortunas do planeta no comando da mais poderosa organização criminosa da história da América Latina, o Cartel de Medellín, com a qual controlava 80% da cocaína consumida no planeta. Nos anos 1980, e até sua morte, em 1993, o grupo, sozinho, marcou a taxa de homicídios da cidade de Medellín em 381 mortes para cada 100 mil habitantes. Cerca de 7,5 mil pessoas foram assassinadas ali só em 1991. A mesma cidade – assim como toda a Colômbia, que até a passagem do narcotraficante era conhecida como a terra do café – parou para rever a trajetória de El Patrón na série “Pablo Escobar: o Senhor do Tráfico”, narrativa baseada na biografia escrita pelo jornalista Alonso Salazar J., publicada no Brasil pela Editora Planeta.

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Entre os 11 milhões de pessoas que se prostraram em frente à TV no primeiro episódio – transmitido no Brasil pela Globosat –, encontravam-se viúvas, filhos e sobrinhos das vítimas de Escobar. Apesar da acusação de glorificar e até martirizar o homem considerado o maior traficante do mundo pelo DEA (Departamento Estadunidense Antidroga, órgão do Departamento de Justiça dos EUA), a audiência não caiu um ponto sequer entre um episódio e outro. O livro que deu origem à série, fruto de 16 anos de pesquisa de Salazar, explica em alguma medida o fascínio popular pelo anti-herói em seu país: na mesma semana em que derrubava um avião e explodia supermercados e redações de jornais, o capo do narcotráfico mandava construir casas para os moradores das favelas onde buscava seus piores soldados, assassinos de aluguel chamados de sicários. Com seu discurso político, interferiu mais na sociedade colombiana do que os três presidentes pelos quais não se deixou governar. Mudou a lei de extradição e as normas penitenciárias para proteger seu negócio milionário, que jamais deixou de prosperar. As atrocidades que não escondia – tinha uma preferência por explosões, falava que a dinamite era a bomba atômica dos pobres – justificava como ferramenta anti-imperialista. Dizia para os colombianos que vender cocaína para os Estados Unidos era uma maneira de vingar seu povo e defendê-lo da dominação americana. Era amado. Na lápide sobre sua sepultura, a mais visitada em Montesacro, cemitério ao sul de Medellín, lê-se: “Aqui jaz Pablo Escobar Gaviria, um rei sem coroa”. Há um museu em seu nome, santinhos com seu rosto e uma oração para os que querem pedir sua proteção, 21 anos depois de sua morte.

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VERSÃO BRASILEIRA
O traficante vai ganhar vida na pele de Wagner Moura,
em série dirigida por José Padilha este ano, no Netflix

Mas a figura excêntrica que posava fantasiada de Pancho Villa e colecionava hipopótamos alimenta uma mitologia que ultrapassa as fronteiras da Colômbia com mais facilidade que a droga que sustentou o seu bem-sucedido projeto de poder. No último Festival de Toronto, no Canadá, outra cinebiografia sobre o traficante foi aplaudida de pé pelo público e pela crítica: “Escobar: Paradise Lost”, protagonizada por um irreparável Benicio del Toro, deve estrear no Brasil ainda este ano. Também neste ano, o Netflix leva ao ar uma nova série sobre a mesma biografia. “Narcos”, com direção de José Padilha, vai mostrar a ascensão e a queda do Rei da Cocaína com Wagner Moura na pele de Escobar.

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MERGULHO
O jornalista colombiano Alonso Salazar J. investigou durante 16 anos
a vida de Pablo Escobar. Sua biografia, no Brasil pela Editora Planeta,
serviu de base para a série de sucesso exibida no Brasil pela Globosat 

Quando grupos humanistas contestaram a série colombiana, Fidel Cano, diretor do jornal “El Espectador”, que teve o tio assassinado por Escobar, observou que, além do criminoso, a obra baseada na biografia contemplava a voz das vítimas. Para ele, se a sociedade prefere o traficante, há algo mau nela, e não no programa de TV. Pablo Escobar foi morto em fuga, abatido a tiros sobre um telhado pelo Corpo de Elite da Polícia em 2 de dezembro de 1993, quando completou 44 anos. Sua morte causou imensa comoção popular e encerrou a vida da maior empresa criminosa da Colômbia, que jamais, porém, se livrou dos herdeiros, das marcas e, perante o mundo, do estigma do narcoterrorismo.

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Fotos: Leonardo Soares/Folhapress; Divulgação