Nas últimas eleições, mais da metade da Câmara de Vereadores de São Paulo foi renovada. O PT, com a maior representação, tem 16 dos 55 vereadores, passou de oposição à situação. Conseguiu costurar uma aliança com os partidos de esquerda e também com o PSDB para dar sustentação à prefeita Marta Suplicy. Mas, ao que tudo indica, a unidade governista não vai durar muito. Na segunda-feira 4, Marta decidiu, por decreto, aumentar o salário de 1.072 funcionários do seu primeiro escalão. Secretários, subsecretários, assessores e administradores regionais passam a receber 40% a mais, ou seja: o salário sobe de R$ 4,78 mil para R$ 6 mil. A medida está causando polêmica até mesmo entre os aliados. “O decreto é inoportuno e contraditório. Conspira contra o que ela prega: que todos se unam, sem ônus, para reconstruir São Paulo”, alfineta Cláudio Fonseca (PCdoB), que é presidente do sindicato municipal dos professores, categoria que tem como piso R$ 397.

Para a prefeita, é impossível montar equipes qualificadas com baixos salários. O reajuste representa um aumento de R$ 8 milhões nas despesas. A tropa de choque governista admite: “A situação é indigesta. Mas o PT vai ter que enfrentá-la”, avalia o vereador Ítalo Cardoso (PT). A prefeita não enviou ainda projeto do aumento à Câmara, mas as chances de aprovação são pequenas. Na quarta-feira 7, o vereador Gilson Barreto (PSDB) encaminhou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) um projeto de decreto legislativo para anular o ato. A CCJ, no entanto, ainda não está formada. Os aliados, contrariados, esperam que a prefeita modifique a medida, estendendo o reajuste para os 147 mil servidores, sem aumento há oito anos.

O decreto de Marta já está em vigor. Mas é bom lembrar aos beneficiados que, caso a medida seja anulada pelo Legislativo, terão de devolver a diferença aos cofres públicos. Pôr fim ao reajuste, disposição demonstrada pelos aliados na Câmara, fará com que a prefeita engula o primeiro sapo de sua administração. E eles prometem não parar por aí. Apesar de abortada após acordo com o PSDB, a oposição insiste em abrir a CPI do Lixo e pôr na berlinda a administração petista, que contratou, sem licitação, as mesmas empresas denunciadas pelo PT no governo Pitta.