A eleição do prefeito Cesar Maia (PTB), numa inusitada aliança informal com a esquerda, está levando o Rio de Janeiro a reviver os anos 60, quando era o Estado da Guanabara. Principal articulador da oposição ao governador Anthony Garotinho (PSB), Cesar não admite se candidatar à sucessão estadual. “É muito melhor governar a Guanabara”, argumenta. Negando-se a qualquer subordinação ou reverência ao governador, com quem ainda não se encontrou, Cesar age como se comandasse a extinta cidade-estado. “O negócio é governar a Guanabara agora e ser presidente em 2006”, abre o jogo o deputado federal Rodrigo Maia (PTB), filho e braço direito do prefeito no Congresso.

Conhecido na primeira gestão (1993-96) como técnico apolítico dado a maluquices administrativas, Cesar optou por um perfil distinto. Reconhecendo que ganhou graças ao PT e ao PDT, convidou os dois partidos para a prefeitura, montou um secretariado político e, ainda defendendo a candidatura presidencial de Ciro Gomes (PPS), engatou um namoro firme com petistas e pedetistas. Já teve três longos encontros com Leonel Brizola e recebeu até Lula no gabinete. Nos bastidores do cesarismo, os desentendimentos com o deputado Roberto Jefferson, ex-comandante do PTB no Rio, abriram espaço para especulações sobre o retorno de Cesar ao PDT.

Foi no partido de Brizola que Cesar iniciou a carreira política, saindo em 1992 para uma peregrinação pelo PMDB, PFL e PTB, que lhe rendeu a imagem de oportunista. Para quem defende o retorno às origens, a reconquista de um eleitorado ansioso por um novo líder e a tintura de esquerda do PDT seriam mais do que convenientes. “Não há negociação, mas verei a idéia com simpatia se houver problema no PTB”, anima-se o ex-pedetista Eider Dantas, secretário de Obras e maior amigo do prefeito. “Não é impossível, mas não tratamos disso. Há diálogo e compreensão entre nós e o PDT defende um voto de confiança nele”, amacia Brizola.

Cesar nega, reiterando as divergências ideológicas com o ex-mestre, mas não descarta apoiar um pedetista – o prefeito de Niterói, Jorge Roberto da Silveira – para o governo em 2002. O nome defendido por Cesar é o do deputado federal Jorge Bittar (PT). Os elogios do deputado Milton Temer, cardeal da esquerda petista, é mais um salvo-conduto para Cesar. “Ele tinha uma simbologia de direita sem ser do establishment. Não acredito que apóie o PT, mas sua evolução política é positiva no combate a Garotinho, que é a direita do Rio”, diz Temer.

Apesar de optar por uma ação mais discreta, Cesar não abandonou a arte de criar factóides, os anúncios que rendem muita mídia. Proibiu a divulgação na cidade de pesquisas eleitorais sem auditoria e obrigou as secretarias a cortar 29% dos gastos para poder transformar a cidade num canteiro de obras já em março. A tesoura deixou a cidade-estado de Cesar longe do glamour dos anos 60. Na prefeitura, funcionários fazem vaquinha para comprar café e copos de plástico. Saudades da velha Guanabara.