O índice de atividade industrial dos EUA em janeiro completou seis meses de retração e chegou ao ponto mais baixo desde 1991. Isso ainda não atende à definição econômica de recessão, que implica seis meses de retração da economia como um todo, mas indica que ela provavelmente está começando. O índice industrial foi suficientemente baixo para indicar que, ao menos nesse mês, o crescimento geral do PIB (Produto Interno Bruto) americano deve ter sido negativo pela primeira vez em quase dez anos – isto é, desde a recessão de 1990-91. Esta crise, que também se seguiu a uma alta de juros imposta por Alan Greenspan, o presidente do Federal Reserve, o banco central americano, impediu George Bush pai, que o havia nomeado, de conseguir sua reeleição no ano seguinte. No último trimestre de 2000, o crescimento anualizado do PIB americano foi de 1,4%, relativamente baixo, mas ainda positivo.

Os efeitos da desaceleração da economia já começaram a atingir os americanos. O índice de desemprego subiu de 4% em dezembro para 4,2% em janeiro e o índice de confiança do consumidor está em queda livre. Nas últimas semanas, várias grandes empresas da nova e da velha economia anunciaram demissões em massa: Daimler-Chrysler (26 mil), WorldCom (11,55 mil), Lucent (10 mil), Boeing (8 mil). Também foi noticiado pela revista americana Business Week que a General Electric, que já esteve entre os maiores empregadores do mundo, estaria para demitir 75 mil pessoas. O número não foi confirmado pela GE, que, no entanto, reconheceu que está em seus planos reduzir seu quadro de 450 mil funcionários que a empresa terá quando completar a fusão com a Honeywell. A maioria das demissões tem a ver com processos de fusão e aquisições, mas também com perspectiva de vendas menores. A Daimler-Chrysler, por exemplo, registrou uma queda nas vendas de 16% em janeiro e, além do corte de funcionários, anunciou que pretende fechar suas fábricas na Argentina e no México. No Brasil, a empresa paralisou a produção da picape Dakota e estuda o que fazer com a planta construída no Paraná e com os 250 metalúrgicos contratados.

Como tanto o consumidor quanto as empresas americanas atingiram um grau de endividamento sem precedentes, existe o risco de inadimplência em cadeia, que a recente redução da taxa de juros pretende evitar ou amenizar. O dado sobre a queda da atividade industrial saiu no dia seguinte ao do segundo corte de 0,5 ponto porcentual na taxa de juros americana em quatro semanas, uma decisão tão surpreendente quanto o inesperado apoio dado por Greenspan ao plano de cortes de impostos do novo presidente, George Bush filho. A última vez que o Fed havia reduzido tanto sua taxa num período tão curto foi em agosto de 1982, depois que o primeiro semestre registrou uma queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 2,5%.

Reação – A decisão parece confirmar a impressão de que Greenspan tem sido realmente surpreendido pela rapidez do esfriamento da economia, que ele provocou ao elevar os juros até o primeiro semestre de 2000. O chefão do banco central americano errou por pisar demais no freio no ano passado ou por não ter freado mais cedo? De qualquer forma, a aura de infalibilidade que se formou à sua volta durante os anos de prosperidade parece ter-se dissipado, enquanto mais e mais americanos se preocupam com seu futuro.

O mercado financeiro nacional reagiu com nervosismo ante a recente onda de notícias ruins que chegam dos Estados Unidos. O dólar comercial, que andava comportado há meses, subiu 1% em apenas um dia, na quinta-feira 1º, e fechou cotado a R$ 1,991, o nível mais alto desde outubro de 1999. Uma das principais justificativas para a alta foi o fracasso do leilão da chamada banda C de telefonia celular, que estava marcado para a terça-feira 6. A falta de interesse dos potenciais compradores, segundo especialistas, tem relação direta com a nebulosa conjuntura internacional. Também com o fato de os investidores internacionais terem aplicado pesado na compra de concessões em outros países, especialmente na Europa. Agora, consideram que o retorno será bem mais lento, por conta da ameaça de recessão global detonada pela crise americana.

Contas – O mercado logo fez as contas e concluiu que o governo brasileiro não irá arrecadar os US$ 3 bilhões planejados com a venda das novas concessões. Ou seja, irá entrar menos dinheiro para financiar o déficit nas contas externas nacionais. Por conta disso, a própria trajetória de queda dos juros conduzida pelo Banco Central passou a ser questionada. Até o início da semana passada, era praticamente consenso que os juros voltariam a cair por aqui. Agora, a aposta mais frequente é de manutenção das taxas no nível atual. Isso se as coisas não piorarem ainda mais.