Embalada pela queda dos juros e pela recuperação da economia brasileira, a Bolsa de Valores de São Paulo largou em primeiríssimo lugar neste início de ano como a melhor opção de investimento. As principais ações negociadas na Bovespa renderam em média 16% em janeiro – mais que o rendimento prometido para todo o ano de 2001 pela maioria dos demais ativos disponíveis na praça. Se você ficou animado com a performance, é bom prestar atenção: os profissionais do mercado financeiro, de fato, apostam várias fichas na Bolsa, ou melhor, em algumas ações negociadas ali, principalmente do setor de telecomunicações. A conjuntura é favorável, como demonstram os números do mês passado, e o mercado acionário tem uma boa chance de repetir a dose nos próximos meses. Mas esses mesmos profissionais avisam: além do indispensável sangue-frio, o investidor que quiser se aventurar na Bolsa deve estar ciente de que o ano promete muitos altos e baixos – e nada garante que os primeiros irão superar os segundos. Prova disso foi o que ocorreu na quinta-feira 1. A crise na aliança política de apoio ao governo federal e a divulgação de alguns indicadores ruins da economia americana provocaram uma queda de 4% em apenas algumas horas, enquanto o dólar comercial fechou com valorização de 1%.

Mas a tentação para se aventurar em investimentos de maior risco será considerável. Isso porque o investimento que concentra a maior parcela do dinheiro dos brasileiros – os fundos de renda fixa do tipo DI (lastreados em Certificados de Depósitos Interbancários, daí a sigla) – perdeu um pouco do seu charme, justamente porque os juros caíram. Em janeiro, por exemplo, renderam 1%, contra uma inflação de 0,62%. Ainda assim, de cada dez reais investidos, pouco mais de oito estão nessa modalidade de aplicação. Por ser um investimento seguro, com rentabilidade e liquidez garantidas, é de longe o preferido dos investidores. Com o rendimento apertado, não será o caso de tentar embarcar em uma aposta mais agressiva? Reinaldo Lacerda, diretor de Investimentos e Poupança do BankBoston, avalia que, antes de tomar uma decisão, vale a pena ponderar alguns pontos. “Desde dezembro, a Bolsa aparece como a melhor opção de investimento, inclusive porque ela caiu no ano passado. Mas o investidor precisa ter claro os seus objetivos. Se for comprar uma casa, é melhor esquecer a Bolsa. O mesmo vale se ele não pode nem pensar em perder um pouco por algum tempo”, diz Lacerda. Para esse investidor conservador, o melhor é continuar na renda fixa, avalia o diretor do BankBoston. Com as novas regras baixadas pelo governo no final do ano passado, até mesmo a caderneta de poupança ficou mais atraente. Mas apenas para quem queira aplicar seu dinheiro por um prazo curto, de no máximo três meses.

Dólar – Vedete em momentos de turbulência em outro tempos, o dólar não anima os especialistas como opção de investimento para este ano, ainda que sujeito a sobressaltos. A expectativa é que apresente uma valorização próxima de 7% até dezembro. Por conta disso, é interessante apenas para quem tenha – ou pretenda assumir – dívidas em moeda americana. “Os fundos cambiais são uma boa somente em casos específicos. Apenas se você pretende viajar ou tem algum compromisso em dólar”, afirma Gilberto Poso, diretor do Lloyds Asset Management. Como a maioria, aponta a Bovespa como a melhor opção para quem queira arriscar-se.

O comportamento da economia americana – é consenso entre os especialistas – será a principal variável desse jogo. Se as coisas forem bem, os juros continuarão a cair por lá, como ocorreu na semana passada, quando Alan Greenspan, o presidente do banco central americano, reduziu a taxa básica em meio ponto percentual, para 5,5% ao ano. E o tal desaquecimento não se transformará em recessão generalizada nem afetará a saúde do sistema financeiro americano. A solução para o impasse vivido pela economia argentina, cuja moeda continua atrelada ao dólar e por isso não consegue voltar a crescer, e o preço do petróleo no mercado internacional aparecem em seguida como as possíveis causas de stress. E, quando o assunto é investimento, a palavra stress costuma vir acompanhada de outra, igualmente desconfortável: prejuízo.