Especial

Tempo de cuidar da alma
Práticas espirituais e místicas ajudam a preencher vazios e a encontrar paz em meio ao stress diário

Suzane Frutuoso

 

Sem seguir uma religião específica, a advogada paulistana Ivone Simões, 60 anos, considera-se espiritualizada. "Minha família era católica fervorosa. Já freqüentei centro kardecista e umbanda. Pego um pouquinho de tudo que me faça bem", diz ela, que também aplica reiki (um tipo de energização com as mãos) e reza sempre para os anjos. Ivone é o retrato atual da fé brasileira, marcada pelo sincretismo. É ter aquele santinho de devoção, tomar passe em centro espírita, seguir preceitos budistas e até encontrar orientação nos búzios. De quebra, ainda pode consultar mapa astral, numerologia e tarô.

Durante séculos, religiosidade foi sinônimo de pouca instrução. Pesquisadores chegaram a afirmar que o avanço da ciência selaria seu fim. Mas o que se vê hoje é um movimento contrário. Em uma sociedade ávida para aliviar as angústias, há mais gente assumindo sua espiritualidade e, muitas vezes, não apenas uma crença, mas um pouco de várias."As pessoas se apropriam daquilo que ajuda no momento", diz o teólogo Afonso Ligorio, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. "Não é mais um crime mudar de religião. É até comum em uma mesma família cada membro seguir uma fé diferente."

EM SÍNTESE:

� Mais pessoas estão assumindo sua espiritualidade. Muitas vezes, não apenas uma crença, mas um pouco de várias. É o sincretismo

� O sucesso atual das práticas que unem corpo e mente, como ioga, meditação e tai chi chuan, comprova a necessidade de equilíbrio no cotidiano

� Viagens com roteiros místicos e religiosos, como Machu Picchu, Egito e Israel, cresceram 80% nos últimos três anos

O sucesso atual das práticas que aliam corpo e mente comprova a necessidade de equilíbrio no cotidiano. Ioga, meditação e tai chi chuan melhoram a concentração, a respiração, o alongamento, tonificam músculos e aquietam os pensamentos. "Especialmente os executivos perguntam por modalidades que baixem o stress e ajudem na interiorização", diz Saturno de Souza, coordenador da rede de academias Bio Ritmo, que oferece essas aulas. O cotidiano conturbado e a frieza nas relações parecem estar incomodando as pessoas. "Elas chegam aqui sentindo que precisam de uma autotransformação para mudar o que está a sua volta", diz Márcia De Luca, fundadora do Ciymam (Centro Integrado de Yoga, Meditação e Ayurveda), em São Paulo. Márcia é um exemplo de como esta área está em expansão: ela tem um boletim informativo na Rádio Eldorado, lançou livro, dá palestras e aulas na linha body & mind, que unem corpo e mente.

Outra forma de cuidar da alma são as viagens místicas e religiosas. Aumentou 80% em três anos a procura pelo segmento. A holística Marta Braga, que acompanha grupos para esses destinos organizados pela Abba Tour, em São Paulo, diz que o público é variado. "Já tivemos de faxineira a médico", diz ela. "As pessoas querem experiências que toquem a alma." A espiritualizada Ivone aderiu a esses pacotes faz tempo. "Participo desses roteiros há dez anos", conta. "Estive em lugares como Índia, Nepal e Israel. Cada viagem é mais um passo para meu crescimento interior."