“Foi Deus mesmo que,
terminado o seu trabalho, pôs-se
ao pé da Ciência (…) e repousou
do cansaço de ser Deus”
Ecce Homo, Friedrich Nietzsche

A finitude física é uma certeza intragável e impossível de se compartilhar. Os filósofos dizem que cada um pertence à sua própria morte, não à dos outros. Adiar ao máximo esse encontro sempre foi o maior desafio da ciência. Se pouco a pouco o homem dominou a natureza, por que não alcançaria a imortalidade e se faria à imagem e semelhança de Deus? Os alquimistas, que na Idade Média perseguiram o elixir da longevidade, ficariam excitados se pudessem ver o cenário que inaugura o século XXI. Ao mesmo tempo fascinante e amedrontador. Há cinco anos, os cientistas romperam a inviolabilidade do ciclo natural da vida na Terra ao apresentar ao mundo o primeiro animal clonado, a ovelha Dolly – o núcleo do óvulo de uma fêmea foi removido e substituído por células das glândulas mamárias de outra ovelha adulta. Depois de Dolly, vieram bezerros, vacas, porcos, macacos e sapos clonados. A réplica do ser humano é a bola da vez. Homens e mulheres gerariam cópias perfeitas de si mesmos ou produziriam em laboratório uma nova versão dos entes queridos que já morreram. Qualquer que seja o objetivo, a caixa de Pandora foi aberta, o nascimento do primeiro ser humano clonado parece inevitável, e deve vir ao mundo mais cedo do que se imaginava.

A suprema ironia é que a notícia da clonagem humana veio da Itália, berço da Igreja Católica, que ainda hoje exorta os fiéis a desprezar a camisinha e a pílula como método contraceptivo. Sob as barbas do Vaticano, de lá partiu na segunda-feira 6 o ginecologista Severino Antinori – fecundado há 55 anos em Roma por reprodução sexuada – para comunicar à comunidade científica mundial, na Academia Americana de Ciências, em Washington, EUA, que até novembro começará a testar em humanos a mesma técnica de clonagem usada em Dolly (leia quadro à pág. 81). Quer dar a todos, casais homossexuais ou estéreis, idosos ou pais solteiros, a chance de perpetuar sua linhagem. Para isso, ele guarda na manga o nome das 200 voluntárias que prometem doar seus óvulos para a experiência, mas não faz segredo da existência de uma fila de espera com 700 interessados em pagar por um clone.

Como a experiência com humanos é proibida na maioria dos países, incluindo o Brasil, o médico diz que pretende realizá-la a bordo de um navio em águas internacionais ou num laboratório secreto. Ninguém sabe ao certo onde será. Na semana passada, enquanto ele apresentava seus intentos, do lado de fora do castelo da academia americana brotava da multidão um milagre ecumênico: judeus, muçulmanos e cristãos se agregaram numa comunhão de credos rivais em protesto contra a clonagem. Dentro da academia – uma prestigiada organização independente de pesquisa –, havia gente que já experimentou o processo de clonagem em diversos bichos, mas nunca ousou – porque também se opõe – replicar uma pessoa. Três deles, porém, faziam o papel de Dr. Frankenstein: Antinori, diretor do Instituto Internacional Associado de Pesquisas de Roma, o empresário americano Panayiotis Zavos, que dirige um laboratório de genética no estado de Kentucky, e a química francesa Brigitte Boisselier, autoridade da seita religiosa dos raelianos, que acredita ser a clonagem uma missão da humanidade.

Mistério – Antinori tem um obstáculo que para ele não representa um obstáculo. O conhecimento científico no campo da engenharia genética ainda oferece milhões de incógnitas. Apesar do feito de Dolly, não se consegue explicar o mistério que faz células de outra parte do corpo se multiplicarem e se diferenciarem dentro de um óvulo esvaziado. E nenhum animal clonado até hoje nasceu de primeira. Para que um vingue, centenas de embriões têm de ir para o lixo. Em se tratando de animais, os testes são uma ferramenta da ciência. Quando as pesquisas envolvem seres humanos, a ética médica assegura que o experimento se torna crime. “Além disso, os clones envelhecem com muita rapidez. Em humanos, acredita-se que esses fenômenos se manterão da mesma forma”, afirma Alan Colman, diretor da companhia de pesquisas genéticas PPL Therapeutics, onde foi clonada a ovelha Dolly. É por isso que Antinori está sendo metralhado por cientistas dos quatro cantos do mundo. “É uma loucura”, resume o desencantado dr. Frederick Pinsky, da instituição de pesquisa genética Laboratório Terapêutico Hamburgo, nos EUA. “Os chimpanzés têm composição genética muito semelhante à do homem. Apenas dois genes nos diferenciam. Quem clonar um primata desses será capaz de clonar um humano”, assegura.

A reação dos patrícios de Antinori não foi diferente. “Parem este médico”, imprimiu o jornal italiano Corriere Della Sera. A Ordem dos Médicos da Itália abriu um processo disciplinar para impedi-lo de usar o uniforme branco e pretende cassar sua licença profissional se o romano Antinori insistir. Para o Vaticano, ele é o emblema do anticristo. O chefe do departamento de doutrinas da Santa Sé, Joseph Ratzinger, o acusa de ser desumano como Hitler. Um relatório do Parlamento Europeu elegeu o ginecologista e outros três médicos empenhados em clonar humanos como inimigos públicos da sociedade. França e Alemanha já solicitaram à Organização das Nações Unidas a elaboração de uma convenção universal que proíba a clonagem humana. Tudo para deter Antinori e seus pares.

A sua determinação em clonar humanos acendeu o mais acalorado debate sobre ética médica e os limites da ciência desde o nascimento de Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, em 1978. A polêmica fez o candidato a clonador romano – perseguido pelas câmeras de tevê até dentro do banheiro da Academia de Ciências – baixar o nível do discurso durante o simpósio. “O senhor, que é um veterinário, preocupe-se com sua fábrica de animais”, disparou o italiano contra o embriologista escocês Ian Wilmut, pai de Dolly e uma das vozes mais tonitruantes contra a clonagem humana.

Para quem se preocupa com a ética científica, as propostas de Zavos, Boisselier e Antinori podem tornar profeticamente realistas as páginas de ficção descritas pelo inglês Aldous Huxley, em 1941, no clássico Admirável mundo novo. No livro, o autor imagina uma sociedade concebida por engenharia genética. Os personagens estão divididos em classes: os geneticamente perfeitos e os subalternos, concebidos de modo natural, por meio de relações sexuais e, portanto, imperfeitos.

Teoria e prática – Irredutível, o médico-monstro Antinori defende-se. “Também falavam dos perigos de se implantarem óvulos fertilizados em mulheres com idade avançada para a procriação. Provei que esses medos eram infundados”, diz, sem falsa modéstia, o italiano que ficou famoso em 1994, ao inseminar e induzir a gravidez numa mulher de 62 anos que hoje ofega atrás de uma criança traquinas.

Falar é fácil, problemático é fazer. A tríade de clonadores não revela nenhuma técnica nova capaz de assegurar o êxito das pesquisas em humanos. Antinori afirma, sem no entanto mostrar a receita, que desenvolveu um sistema de “pré-alarme” para detectar problemas de má formação do embrião antes que ele seja fecundado e se transforme em um “monstro”. As estatísticas científicas o desmentem: mais de 90% dos animais clonados até hoje nasceram com alguma espécie de deformação – muitos desses animais foram sacrificados para abortar seu sofrimento. Quando questionado a respeito dos riscos de gerar um bebê defeituoso, Antinori responde apenas que, assim como a vida, nem tudo na ciência é perfeito. Paciência.

Para a diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano no Brasil, Mayana Zatz, o exercício não passa de blefe. “O que se consegue perceber no estágio anterior à fecundação do embrião é ridiculamente pouco”, diz. Algo em torno de 70 alterações num universo de sete mil doenças genéticas existentes. Uma das razões para o fracasso das experiências seria a chamada impressão genética. No desenvolvimento de um indivíduo completo são necessárias uma cópia do gene da mãe e outra do pai para cada característica do corpo. E elas têm programações diferentes. Em uma pessoa saudável, um dos genes funciona como inibidor da doença que o seu par carrega. “Sabe-se que usar a herança genética de apenas um dos pais leva à manifestação de doenças raras, acompanhadas de retardo mental e anomalias físicas”, diz Thomaz Gollop, diretor do Instituto de Medicina Fetal de São Paulo. Uma criança gerada só com o DNA da mãe teria para cada par de genes duas cópias iguais. Correria o risco de ter dois genes com a predominância de uma doença e nenhum para funcionar como inibidor. “Se mil clones de animais fossem acompanhados durante 50 anos, aí, sim, poderíamos dizer que o processo é seguro”, afirma Mayana. A realidade é que ainda é muito cedo para iniciar a clonagem de humanos.

Há quem enxergue na encenação de Antinori uma estratégia de promoção. Dinheiro para as experiências não deve faltar. O italiano conta com aliados de bolsos recheados, como Zavos, que não revela cifras. O geneticista australiano Irving Lastos, que participou do debate científico nos EUA, imagina que os custos cheguem a US$ 100 milhões.

Células-curinga – O lado positivo da clonagem embrionária é abrir novas perspectivas de sobrevivência e de cura de doenças. O método é o mesmo de Dolly. O que muda são as aplicações do embrião gerado. Os seres vivos são concebidos a partir da multiplicação de uma única célula-ovo, contendo em seu DNA toda a informação hereditária. Antes de começar a se dividir e a se diversificar para formar os tecidos do corpo, as células do embrião, batizadas de células-tronco, são indiferenciadas. Podem funcionar como curinga de órgãos doentes, ajudando a substituir seus tecidos degenerados.

Pesquisadores israelenses conseguiram transformar as células retiradas de um embrião fertilizado em tecidos do coração. Estaria nas células-tronco uma possibilidade de tratamento para o mal de Alzheimer e para a diabete. Células adaptadas às estruturas do tecido cerebral ou do pâncreas, no caso da diabete, poderiam funcionar no lugar das degeneradas.

O que preocupa os pesquisadores é que a ameaça da clonagem humana freie as pesquisas de clonagem terapêutica. O Congresso americano proibiu a clonagem de embriões até para tratamentos, mas o presidente George W. Bush acabou autorizando, na quinta-feira 9, um fundo limitado de ajuda. Ele beneficiará 60 pesquisas com células-tronco em andamento. Como muitos estudos ficaram de fora, os cientistas americanos não gostaram nem um pouco.

Quem somos? – Se a clonagem der certo, ela tende a agravar nossa crise de identidade. A perda da função natural dos pais, de responsáveis pela geração dos descendentes, poderia roubar a bússola de homens e mulheres. “Quanto mais a ciência avança, mais ela impõe a questão de quem é você. E jamais vai conseguir eliminar a fortuna e o infortúnio que é viver”, analisa o psicanalista lacaniano Jorge Forbes. O que dizer dos clones, condenados a conviver com o fardo de serem cópias, como os replicantes do filme Blade Runner, do diretor Ridley Scott, que por serem imperfeitos eram caçados pelo personagem de Harrison Ford? “Teremos uma sociedade padronizada esteticamente, com clones infelizes, pois vão existir à sombra da matriz”, especula o ginecologista Eduardo Motta, dono da clínica de fertilização Huntington, em São Paulo. Ele conta que já foi procurado por dois casais que perderam seus filhos e, no desespero, sonham produzir um clone. O médico desaconselha. “A fertilização in vitro dá vida a quem não pode gerar. Os médicos deveriam contar com normas legais enérgicas para convencer os pacientes a esquecer a clonagem”, reclama Motta.

A Lei de Biossegurança, elaborada em 1995, proíbe a manipulação de células germinativas (as células sexuais), mas não menciona o termo clonagem humana. Os avanços da genética são tão rápidos que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança se viu obrigada a lançar um fórum de discussões de uma nova ética para manipulação genética. “O importante é não vetarmos a clonagem terapêutica, que representa um avanço da medicina”, diz Gollop. Seus coordenadores estão convencidos de que o clone, mais cedo ou mais tarde, será realidade. Vivemos um momento-limite e as perguntas são mais numerosas que as respostas. Mas parece que a terapia genética é um caminho sem volta.

Colaborou Henrique Fruet

“Bush é contra porque
dá ouvidos ao papa”

ISTOÉ – Os pesquisadores dizem ser impossível impedir que genes defeituosos sejam passados para o clone.
Severino Antinori – Eles duvidam de tudo. São como São Tomé: só acreditam vendo. Existe muito ciúme e politicagem nos meios científicos. Chegaram a censurar a Academia Nacional de Ciências por ter me convidado para falar no simpósio. De que têm medo?

ISTOÉ – A oposição atrapalha as pesquisas?
Antinori – A Inglaterra aprovou a legalização da clonagem humana para pesquisas. No futuro também aprovará a clonagem humana para outros fins. É pena que os Estados Unidos fiquem para trás nesta jornada maravilhosa. Mas os investidores americanos vão continuar nos financiando. O presidente George Bush só se opõe à clonagem humana porque dá ouvidos ao papa.

ISTOÉ – Bush não é católico. Por que ouviria o papa?
Antinori – O papa é um cabo eleitoral de peso. Antinori não elege ninguém. Se nos atrelássemos a dogmas religiosos, ainda acreditaríamos que a Terra é o centro do universo. A Igreja promove uma nova Inquisição contra a ciência. Me acusam de grotesco, mas estou em boa companhia: também falaram o mesmo do astrônomo Galileu. Pesquisar não é crime.

ISTOÉ – Não é assustador criar uma cópia de outra pessoa?
Antinori – Uma criança clonada – venho repetindo à exaustão, mas não me ouvem – é uma criança normal. Apesar da mesma aparência dos pais, é um indivíduo único, com suas próprias características e personalidade.

 

A seita pretende tornar o
Brasil um centro mundial

Eles acreditam nos prazeres da carne, na arte para estimular os sentidos e no materialismo. Fogem do cigarro e do cafezinho como o diabo, da cruz. Em compensação, pregam que a clonagem é a salvação da raça humana. Para os devotos da seita religiosa dos raelianos, os seres humanos são resultado de uma experiência científica patrocinada por extraterrestres que vivem a 3 bilhões de quilômetros da Terra. Moisés, Buda, Maomé e Jesus Cristo seriam mensageiros dos deuses que nos criaram como clones.

Fundada em 1973, a seita com 55 mil fiéis em 84 países não acredita num deus único e inicia seu calendário em 6 de agosto de 1945, não por acaso o dia da explosão da bomba de Hiroshima. “O controle da fissão nuclear mostra que se chegou a um nível de conhecimento científico suficiente para compreendermos nossas origens”, explica o português David Uzal, pintor, escritor e filósofo formado pela Sorbonne, em Paris, que representa os raelianos no Brasil. “O avanço da engenharia genética, as viagens espaciais e a possibilidade de criar vida são sinais de que começamos, enfim, a entender nossos criadores”, diz Uzal.

Os deuses estariam sedentos para retornar à Terra. É por isso que os devotos correm para construir uma embaixada para recepcionar Elohim, nome mencionado na Bíblia que em hebraico significa Deus, no singular, o que para os raelianos é uma heresia. “Pedimos ao governo brasileiro um terreno onde possamos ter autonomia, como nas embaixadas, que não se submetem às leis do país onde estão”, afirma Uzal. A seita não reivindica propriamente o terreno, só a liberdade de ação por exatos 99 anos. “O Brasil tem tudo para se converter no centro internacional de referência científica de clonagem, já que aqui ninguém é tão radical como nos Estados Unidos”, revela.

A seita nasceu em 1973, quando o francês Claude Vorilhon teria se encontrado seis vezes com os deuses Elohim. Desde então, mudou seu nome para Raël, que em hebraico significa mensageiro de Elohim. O cenário imaginado pela seita é assombroso: a clonagem vai permitir que a humanidade alcance a vida eterna. O próximo passo será a clonagem de uma pessoa adulta, que não precisa passar pelo processo de crescimento, a quem se transferirá memória e personalidade. A química francesa Brigitte Boisselier dividiu a cena com italiano Severino Antinori e o americano Panayiotis Zavos, na semana passada, quando os três divulgaram seus planos para gerar um clone humano. Brigitte é diretora da clínica de fertilização raeliana Clonaid, que oferece o serviço por US$ 200 mil. “Ainda não clonamos, mas estamos perto”, disse a química. Sua filha e outras 50 devotas são candidatas à barriga de aluguel para a clonagem.

Darlene Menconi

Amigos para sempre

O melhor amigo do homem já foi treinado para ser astronauta, marinheiro, policial, pastor e mergulhador. Desde a estréia do desenho animado Bionicão, no entanto, não se via cachorro mais científico. No Estado americano do Texas está sendo engendrado o “clãonado”. Não se trata de mera figura impressa em celulóide, mas de um canino de carne, ossos e pêlos de verdade, que deve ser a primeira cadela clonada da história. O nome da pioneira é Missy e o projeto – que leva o nome de “Missiplicity”, num trocadilho em inglês com a palavra multiplicidade – é conduzido pela A&M University of Texas. “Dentro de poucos anos teremos sucesso na clonagem de animais domésticos, livrando seus donos das perdas irreparáveis de animais que são parte da família”, diz, sem denotar ironia, o dr. Mark Weisthuson, responsável pelos esforços de cópia.

Missy não foi escolhida por acaso. Tampouco por seus dotes físicos. Afinal, nem mesmo seus donos sabem ao certo a que raça ela pertence e arriscam que se trata de uma mistura de husky e collie, com preponderância desta última raça. Mas existem milhões de razões que determinaram a escolha dessa cadela de 12 anos para ser replicada. Mais exatamente US$ 2,3 milhões que seu dono, um milionário mantido no anonimato, pagou para a universidade perpetuar seu amigo canino. Desde o anúncio da proeza, em 1998, o centro de pesquisas recebeu milhares de propostas para copiar cães e gatos caseiros. Tanto que se criou um site para Missy (www.missiplicity.com), relatando a história do projeto e seus progressos.

Com vistas à futura explosão do negócio, já foi fundada a Genetic Savings & Clones – espécie de banco que guarda congelado o material genético dos bichos de estimação. “Sejam cães, gatos, porcos, galinhas, ratos, seja qualquer outra espécie”, diz, com orgulho profissional, o diretor Lou Hawthorne. Por seus serviços frigoríficos a empresa cobra US$ 1 mil. “Em três anos, a clonagem custará algo em torno de US$ 20 mil”, prevê Hawthorne.

Osmar Freitas Jr.

Clonagem na televisão

clonagem está tão na moda que virou tema de novela. O clone, de Glória Perez, será a nova atração global das 20h e estréia em 1º de outubro. Murilo Benício irá interpretar dois irmãos gêmeos e o clone de um deles, Leandro. Este tem 18 anos e sua matriz, Lucas, 40. Se Lucas ficar careca ou tiver uma doença genética, o clone sabe que sofrerá do mesmo mal. Leandro desanima de tentar conquistar o que o modelo original – fracassado no trabalho e no casamento – não conseguiu realizar. Lucas, por sua vez, vê no “irmão” mais novo um espelho cruel. Mesmo que receba elogios por sua aparência aos 40 anos, não se sente em forma vendo seu clone no frescor dos 18. A relação entre os dois será de fascínio e rejeição. Para complicar, a muçulmana Jade (Giovanna Antonneli) namora Lucas e se apaixona por seu replicante. Lucas torna-se rival de si próprio e vê o clone como usurpador de sua figura. Uma história rica em conflitos. Enquanto o dr. Molina (Mário Lago) se assusta com a possibilidade de uso político da clonagem e imagina as pessoas entrando em supermercados para adquirir seres humanos, a cientista Mrs. Brown (Beatriz Segal) prega que tudo vale à pena em nome da ciência. “A possibilidade da clonagem assusta, do ponto de vista ético e psicólógico”, diz Glória Perez. Apesar de seu envolvimento com o tema, a autora afirma não ter vontade de clonar a filha Daniela, assassinada pelo ator Guilherme de Pádua em 1992. “O clone nunca é a mesma pessoa”, filosofa Glória.

Celina Côrtes