O combate à hepatite C, uma doença assustadora e quase sempre assintomática, ganha um aliado a partir de setembro. Neste mês deve chegar ao Brasil um novo tipo de interferon, medicamento antiviral que impede o avanço do mal. A enfermidade é causada por um vírus, o HVC, que se aloja no fígado e destrói as células hepáticas. Ainda não há vacina contra essa infecção. Especialistas calculam que existem entre 175 milhões e 200 milhões de pessoas infectadas no mundo, entre elas mais de 3,5 milhões de brasileiros. “É uma epidemia que se expande”, alerta Adávio de Oliveira e Silva, hepatologista do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo.

O novo interferon, conhecido como peguilado, amplia as chances de controle da doença. Em geral, o tratamento é feito com interferon alfa e o antiviral ribavirina. Essa terapia tem 75% de sucesso. O medicamento a ser lançado eleva essa possibilidade para 90%. “O interferon peguilado fica mais tempo no sangue e pode ser ministrado a cada sete dias, em vez de três, como ocorre atualmente”, explica a hepatologista Ana Olga Mies, do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde o remédio está sendo usado experimentalmente. Os especialistas esperam que o novo interferon reduza os efeitos colaterais. O tratamento pode causar cansaço, queda de cabelo, desânimo, irritação, dor nos músculos, depressão e febre. É justamente a intensidade desses sintomas que dificulta a adesão de pacientes à terapia. Foi o que aconteceu com a professora aposentada Maria Ignez Rossi, 62 anos, de São Paulo. Diagnosticada por acaso, durante exames após uma cirurgia de vesícula, ela prorrogou durante três anos sua decisão de aderir aos medicamentos. “Tinha medo dos efeitos colaterais. Nesse período, convivi com o receio de que a doença causasse danos mais sérios. Após o tratamento, fiquei curada e tenho mais energia para brincar com meus netos”, diz.

A principal forma de transmissão do vírus C é o uso compartilhado de seringas. Também é necessário ter cuidado com agulhas de acupuntura, tatuagem, aparelhos de barbear, instrumentos de manicure e escovas de dente de pessoas infectadas. O médico Adávio Silva garante que o contágio por via sexual é raro. O risco de pegar a doença pelo sangue contaminado se restringe às pessoas que receberam transfusão antes de 1991, quando ainda não havia meios de detecção do vírus da hepatite C (ele foi identificado em 1987).

A hepatite C é uma doença de progressão muito lenta. Suas primeiras manifestações podem ocorrer mais de dez anos depois da infecção. Os sinais iniciais variam desde um estado gripal até a sensação de cansaço profundo. O tratamento não é barato, mas os medicamentos interferon alfa e ribavirina são distribuídos gratuitamente desde o começo de 2000. Para receber os remédios, é necessário ter o diagnóstico confirmado. “Atualmente, o meio mais barato de ser diagnosticar o vírus da hepatite C é doar sangue em hospitais ou em postos de coleta do Pró-Sangue”, orienta Rubens Rodes Júnior, diretor da Associação Transpática, de São Paulo, que reúne portadores de males hepáticos. “Com o resultado, a pessoa pode se dirigir a um dos centros de tratamento ou procurar a associação para ser encaminhada. Esse é o caminho mais curto para ser atendido e vale para pessoas de outros Estados”, explica Rodes.